Abelardo da Hora

ABELARDO GERMANO DA HORA n Assina: ABELARDO DA HORA

São Lourenço da Mata, PE, 31/07/1924.

ESCULTOR, DESENHISTA, GRAVADOR E CERAMISTA.

                Nascido na Usina Tiuma em São Lourenço da Mata, município de Pernambuco, transferiu-se para o Recife onde fez curso de Artes Decorativas no Ginásio Industrial, hoje Colégio Técnico Professor Agamenon Magalhães, compreendendo as disciplinas de desenho, pintura, desenho industrial e arquitetônico, modelagem, escultura e entalhadura, tendo por professores o pintor Álvaro Amorim, o escultor Edson de Figueiredo, o entalhador Mestre João Vicente e outros e, na Escola de Belas Artes, tendo por professores o escultor Casimiro Correia, Fédora Monteiro, Murillo La Greca e Antonio Balthar. É bacharel em Direito formado na Faculdade de Direito de Olinda.

                De janeiro de 1942 a dezembro de 1945, realiza vários trabalhos em cerâmica para o industrial Ricardo Brennand tais como: Salvas Cerâmicas com motivos regionais em terracota; “Bangüê”, “Casa de Farinha”, “Feira Livre”, “Danças Populares” e uma série de Jarros cilíndricos de grandes dimensões. Foi mestre de Francisco Brennand durante um período de quatro anos em que morou no Solar dos Brennand. Em dezembro de 1945, vai para o Rio de Janeiro onde elabora uma escultura de grandes dimensões na casa do saudoso Abelardo Rodrigues, na Ladeira do Ascurras. Pretendia com essa peça concorrer ao Salão Nacional de Belas Artes no ano seguinte. Infelizmente, não houve salão neste ano, deixando-o desapontado. Volta ao Recife em outubro de 1946, com o propósito de fundar uma sociedade, não só para defesa dos interesses dos artistas, como para defesa da própria arte. Em abril de 1948, faz sua primeira exposição de esculturas na Associação dos Empregados do Comércio, na Rua da Imperatriz, no Recife, “com grande repercussão pela sua forma e conteúdo e por ser a primeira exposição de esculturas realizada nesta capital”. Neste mesmo ano, funda a Sociedade de Arte Moderna do Recife, juntamente com Hélio Feijó (Presidente), Ladjane Bandeira, Reynaldo Fonseca, Augusto Reinaldo, Darel Valença, Delson Lima e outros artistas. Assume a presidência da SAMR em 1949, lançando as bases do Atelier Coletivo, que se inicia com cursos de Desenho no Liceu de Artes e Ofícios em 1950, tendo por alunos Gilvan Samico, Wilton de Souza, Wellington Virgolino, Ionaldo, Ivan Carneiro, Mário Lauritzen e José Cláudio – que foram junto com Abelardo – os fundadores. Em meados de 1952, perdendo a sala que ocupava no Liceu, com a colaboração dos alunos, o Atelier Coletivo se instala na rua da Soledade, nº. 57 e posteriormente na rua Velha, nº. 231, e nessa época entraram como alunos Celina Lima Verde, Rosa Pessoa, Bernardo Dimenstein, os irmãos Genilson e Cremilson Soares, Guita Charifker, Leda Bancovski, Corbiniano Lins, Antonio Heráclito Campelo Neto e Anchises. Em 1954, o Ateliê Coletivo realizou o primeiro Salão. A esse respeito, Abelardo afirma: “Todo trabalho que desenvolvíamos tinha no que diz respeito a nossa índole antiacadêmica, muita afinidade com Paris, mas, pela semelhança dos objetivos que já vínhamos palmilhando dentro do Atelier, era com o México nossa maior afinidade”. Neste mesmo ano, participa junto com outros artistas do Atelier Coletivo de uma exposição a convite do Clube da Gravura de Porto Alegre, que percorre vários países: Europa, China, União Soviética, Israel, Argentina e Mongólia. Eleito delegado, em Pernambuco, da Seção Brasileira da Associação Internacional de Artes Plásticas, filiada à UNESCO, desenvolvendo esforços no sentido da integração das artes plásticas com o teatro, a música e atividades artesanais. Amplia o movimento artístico-cultural congregando no Atelier Coletivo o Coral Bach do Recife dirigido por Geraldo Menuchi e, lança as bases de um grande movimento abrangendo: Artes Plásticas, Artesanato, Música, Canto, Dança e Teatro no Governo Municipal de Pelópidas da Silveira, como proposta para a utilização do Sítio da Trindade. Em 1956, o Atelier Coletivo se transfere para a rua da Matriz, 117. Foi nessa época que ingressaram como alunos Adão Pinheiro, Nelbe Souza, entre outros. Segundo Abelardo “todas essas atividades teve como preocupação básica, a elevação do nível cultural da população, da educação do povo para a vida e para o trabalho e, para, a partir dessa mobilização e intercâmbio, consolidar nas manifestações culturais, um caráter brasileiro”. A importância desse movimento foi notada pela sensibilidade da arquiteta Lina Bo Bardi, em exposição organizada no Museu de Arte Popular da Bahia – Solar do Unhão – em Salvador, exposição, que teve por título “Civilização Nordeste”, declarando que: “na representação de Pernambuco havia certa unidade poética que a destacava das demais”. O projeto do Sítio da Trindade se concretiza em 29 de julho de 1958, na administração do Prefeito Miguel Arraes com o nome Movimento de Cultura Popular com um Conselho Diretor formado por Abelardo da Hora, Luiz Mendonça, Paulo Freire, Germano Coelho, Anita Paes Barreto e Geraldo Menuchi. Posteriormente, foi acrescentado um Setor de alfabetização. Ainda por iniciativa de Abelardo, houve a renovação dos Parques Infantis com esculturas que funcionariam como brinquedos, criando também Praças de Cultura. Em 1962, teve um álbum de desenhos com o título Meninos do Recife, lançado por essa entidade. O Movimento de Cultura Popular encerra suas atividades em 1964, transferindo-se para São Paulo em 1966, tornando-se exclusivo da Galeria Mirante das Artes. Em 1995, recebe no Palácio do Itamarati, em Brasília, a comenda da Ordem do Rio Branco.

                Os Estados Unidos, o Canadá e a Europa foram alvos de suas viagens de estudos. Sensível à obra de Portinari, traduziu a realidade nordestina recorrendo à energia do testemunho direto. Como escultor, cria obras impregnadas do ambiente regional. A Enciclopédia Barsa inclui Abelardo da Hora entre seis destacados escultores brasileiros.

                Mário Barata comentou sobre o álbum Meninos do Recife: “Sensível aos valores plásticos e visuais do modernismo, Abelardo exerce sua emocionalidade no âmbito dos temas humanos da desgraça profunda de nossa gente. No artista ela supera o cotidiano e eterniza-se no traço e no claro-escuro de um desenho novo, não retórico na sua essencialidade figurativa”.

                Pietro Maria Bardi, escreveu: “(…) Como artista, mestre, ativo promotor da Câmara de Arte, Abelardo conquistou os mais altos reconhecimentos da crítica, nem só brasileira, mas também estrangeira, afirmando uma personalidade de exceção. Sua arte, em grande parte dedicada à vida popular em Pernambuco, se caracterizou por um modo próprio de interpretação singular no representar uma humanidade de vivência laboriosa, de grande sentimento e de volitivo espírito de iniciativa. (…)”.

                Francisco Brennand, em junho de 1988, escreveu: (…) “Nos idos de 1942, estando ele à frente do Diretório Acadêmico de Belas Artes, comandava uma turma de alunos que se deslocava para as matas da Várzea com a finalidade de pintar e desenhar paisagens, quando Ricardo Brennand, meu pai, surpreendeu-o, à beira do grande açude do velho Engenho São João, em pleno trabalho. Nesse exato momento, Abelardo desenhava a cabeça de uma de suas colegas postada poucos metros adiante. Segundo ele me disse, Ricardo Brennand ficou interessadíssimo no desenho e além da proposta de adquiri-lo, logo descobrindo a sua real profissão de escultor, de imediato, convidou-o a fazer um estágio na Cerâmica São João”.

                “Poucas semanas depois, Abelardo da Hora dava início a uma série de trabalhos modelados em argila que teriam uma importância marcante na arte cerâmica brasileira. Importância tanto para ele como para a confirmação das renovadas experiências de esmaltes realizadas pelo meu pai. Diga-se de passagem, que Ricardo Brennand, em todos os momentos de sua longa existência, sempre manteve, no seu sentido mais amplo, um elevado interesse pela matéria cerâmica. Desde o ano de 1933, já começavam a aparecer na Cerâmica da Várzea belíssimos experimentos de vasos, placas, pratos e terrinas, todos portadores de elevadas intenções artísticas. Se bem que essas peças fossem calcadas em modelos orientais ou neoclássicos europeu, os seus esmaltes e pigmentos à base de óxidos eram laboriosamente manipulados pelo próprio Ricardo Brennand”.

                “A contribuição de Abelardo da Hora, a partir de 1942, foi decisiva no sentido de que, pela primeira vez, essa criação caía nas mãos responsáveis de um verdadeiro artista coberto de talento e criatividade. Portanto, só a partir dessa data essa produção de peças deixava de lado, em definitivo, os modelos europeus ou orientais para assumir uma marca inconteste de originalidade” (…).

 

BIBLIOGRAFIA

Barsa, Enciclopédia. Enciclopédia Britânica do Brasil, Rio de Janeiro – São Paulo, 1987, V.VII, p.81

Bruscky, Paulo e Maia Leite, Ronildo, Abelardo de Todas as Horas, Governo do Estado de Pernambuco, 1988.

Cavalcanti, Carlos. Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos. Instituto Nacional do Livro/MEC, Brasília, 1974, p.340.

Cláudio da Silva, José. Memória do Atelier Coletivo. Edição Artespaço -Nordeste Gráfica e Industrial, 1979, Jaboatão, PE,

Delta Larousse, Enciclopédia. Editora Delta S/A., Rio de Janeiro, RJ., 1970, p.3409

Pontual, Roberto. Dicionário as Artes Plásticas no Brasil. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1969, p.266

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