Brennand

FRANCISCO DE PAULA COIMBRA DE ALMEIDA BRENNAND

Assina: FB ou F.BRENNAND 4Recife, PE, 11/06/1927.

PINTOR, DESENHISTA, ESCULTOR E CERAMISTA.

                Brennand interessou-se desde cedo pela pintura tendo como primeiro mestre Álvaro Amorim e, no atelier deste, manteve conhecimento e amizade com Balthazar da Câmara, Mário Nunes e Murillo La Greca. Entre os anos de 1945/47, passou a estudar com La Greca, recebendo do mestre as primeiras explicações sobre a pintura clássica. Na qualidade de legítimo representante da escola pernambucana de pintura, “revisa a estilização primitiva e arcaica, imprime a pureza da cor, filtra uma natureza telúrica e sensual em cada imagem que formula.” Considera-se um artista moderno, “um homem do seu tempo que não despreza as instituições, mas, que está a regular distância dos intuitivos sem crítica.” O simples prazer de pintar, leva-o a caminhos do mitológico e do profético.

                Brennand distinguiu-se desde cedo nos Salões do Museu do Estado de Pernambuco, obtendo no ano de 1947 o primeiro Prêmio. Interrogado sobre a conquista desses prêmios, respondeu: “Interrogar uma pessoa sobre o que prefere é despertar nela, uma dúzia de demônios coisas que nem sempre são fáceis de abordar, pois são demais íntimas e cativantes: as nossas manifestações artísticas, suas origens e maneiras de caminharmos através delas. Impossível separar a arte do nosso próprio drama… Que a arte volte ao seu primitivo lugar, que não sejam suprimidos a emoção e o instinto… essa viagem que vai da ciência a consciência e que quer dizer o repúdio total de tudo que não estava em você mesmo”. Em 1948, Cícero Dias realiza exposição no Recife, ocasião em que passa a se interessar pelas obras de Brennand, aconselhando ao seu pai manda-lo para estudos na Europa. Em 1950, Brennand foi novamente premiado pelo IX Salão de Pintura de Pernambuco, obtendo o prêmio de segundo lugar.

                Em 1949, viaja para a Europa e em Paris estuda pintura com Fernand Leger e André Lothe. Presenciando uma exposição de cerâmica de Picasso, interessou-se por essa técnica e as experiências feitas por Miró, Léger e Matisse. Na Umbria, Itália, segue um curso de cerâmica, na antiga região etrusca. Brennand participou de inúmeras exposições individuais e coletivas, Bienais e Salões, no Brasil e no exterior.

Em 1958, recebe do empresário Miguel Vita, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, a encomenda de um mural cerâmico de 49m2, para ser doado ao novo Aeroporto Internacional dos Guararapes, representando a primeira grande obra cerâmica do artista instalada em local público. Em 1963 é distinguido com o primeiro prêmio no concurso para mural, promovido pelo Banco do Brasil, no Recife e, nesse mesmo ano, é convidado pelo governador Miguel Arraes a assumir a chefia da Casa Civil do Palácio do Campo das Princesas. Essa passagem durou um curto período, devido ao golpe de estado que ocorreu em março de 1964. Entretanto, suas relações ampliaram-se, envolvendo o meio cultural e político e, pessoas do meio social ligadas às mais diversas atividades, desde organizadores de eventos oficiais até empresários que buscavam no governo apoios ou patrocínios públicos.

                Sua Oficina de Cerâmica na Várzea, a que se dedica em tempo integral (Pintura, Cerâmica e Escultura) é muito propriamente chamada de Catedral Mundial da Cerâmica, por Pietro Maria Bardi e, Castelo das Artes, por Armando Rocha. “Situada no centro de uma densa floresta, observa-se nos seus longos corredores povoados por sinistros seres de formas estranhamente excêntricas, com certos escorridos que lembra substâncias bioquímicas, que proporcionam aos seus argutos visitantes um mergulho num subconsciente estado de espírito angustiante, com a sensação de que existe ali o mistério da realidade. Seres estes que, despertam no crepúsculo, comunicam-se nos segredos da noite e dormem no limiar da aurora; que nascem aos olhos do irreal, fazendo-se penetrar no que para a humanidade seria um sonho universal por ser a falsa realidade coberta por sentimentos ambíguos proporcionando a sensação do que sentiria no inferno de Dante. Na entrada principal de um salão com uma tênue iluminação, existe uma inscrição (IMOTUS NEC INNERS) imóvel, mas não inerte o que justifica vida nos seres que ali habitam”.

                Oficina, termo que Brennand faz questão de chamar assim por ter origem na palavra latina Oficio (Officiu), que quer dizer Trabalho. Portanto, local de trabalho, evitando inclusive o francesismo Atelier. Ao mesmo tempo, há uma idéia de comunidade, de se poder formar o artesão – entre outras coisas isto também é uma escola de cerâmica, onde filhos de operários começam no aprendizado de modelagem; e é também a sua maneira, um centro experimental. Brennand também considera a idéia da Oficina como um templo, um centro cultural histórico e atemporal.

                Poucos sabem quando visitam o santuário de arte construído por Francisco Brennand, na sua Oficina de Cerâmica, que o ponto de compreensão inicial dos seus enigmas artísticos reside nas numerosas esculturas que representa o Ovo da criação. No pátio da sua imensa galeria, perto do pequeno lago, há uma dessas peças sob um pêndulo. Brennand vê no Ovo gigante a natureza germinadora do cosmos e da vida, a representação da divindade suprema. E o Ovo, em numerosos estágios da humanidade, tem estupenda diversidade de mitos cosmogônicos. O Ovo cósmico, para Brennand, foi a sua fonte inicial de inspiração. Esse Ovo se concentra e se multiplica na catedral mística, de inconfundível e singular beleza estética e inventiva, concebida por Francisco Brennand.

                Em 1977, o cineasta Fernando Monteiro dirigiu um filme em curta metragem com o título “Brennand: Sumário da Oficina pelo Artista”. O segundo trabalho cinematográfico sobre a Oficina Cerâmica Francisco Brennand, foi dirigido por Jayme Monjardim, em 1980. Em seguida, Jeneton Moraes Neto e Guel Arraes produzem o filme “Um Sonho Bárbaro / Francisco Brennand”. Em 1993, o Conselho Superior de Cultura do país apresenta como indicado ao Prêmio Interamericano de Cultura Gabriela Mistral o artista original e múltiplo Francisco Brennand, reforçando ainda mais a sua internacionalidade. Em dezembro desse mesmo ano, o Secretário Geral da Organização dos Estados Americanos, Embaixador João Baena Soares, informou à imprensa que o júri reunido em Washington, acabara de conceder o Prêmio Gabriela Mistral aos pintores Francisco Brennand, do Brasil, e Eduardo Kingman, do Equador. A entrega da premiação ocorreu em 1994, na sede da O.E.A. Entre as inúmeras homenagens recebidas, no dia 18 de agosto de 1994, a Câmara Municipal do Recife através dos vereadores Fred Oliveira e Celso Miranda, outorga-lhe a Medalha do Mérito José Mariano. Em dezembro de 1996, o Presidente da República lhe concedeu a Ordem do Mérito Cultural na Classe de Comendador. No mesmo ano teve seu nome incluído no The Dictionary of Art, publicado na Inglaterra.

                Ariano Suassuna, escreveu: “O mundo de Brennand não é, nem devia ser popular; mas revela uma identificação natural entre o sangue do artista e a linhagem cultural brasileira, formada pela confluência e pela fusão da raiz barroca e da raiz popular. Foi, aliás, do floral Brennandiano, de seus cantos e guerreiros entremeados por folhagens e frutos, de seus animais brasileiros recriados no deserto linear, tosco e vigoroso, de sua pintura achatada e de cores puras, de sua coloração arbitrária e não realista das figuras no espaço, de seu traço propositadamente grosseiro, popular e brasileiro, da pintura épica de seus murais de cerâmica, que surgiu muita coisa que anda hoje por ai, imitada ou descivilizada, mas ainda assim dando um testemunho de força e da vitalidade da origem”.

                Frederico Morais fez-lhe a seguinte crítica: “A pintura de Francisco Brennand tem cheiro e cor da terra… A sua sensibilidade e a sua percepção são conduzidos pelos ritmos da natureza, o vento, a chuva, o mar e a terra; assim como o tempo é sentido nas passagens bruscas do dia e da noite, segundo o ritmo das estações, ou com ajuda do canto do pássaro, da cor das frutas ou do próprio corpo quando faminto e cansado… O vigor e a macheza de sua pintura, a luminosidade intensa de seus quadros, são um hino à um viver mais sadio, mais natural, mais concreto. A morte quando aparece num dos seus quadros, no qual se vêem influência da literatura de cordel, tem uma conotação fatalista. Tem um sentido épico, reflete a grandeza e a dimensão humana, é uma morte-viva.”

 

D

Assina: FB ou F.BRENNAND 4Recife, PE, 11/06/1927.

PINTOR, DESENHISTA, ESCULTOR E CERAMISTA.

                Brennand interessou-se desde cedo pela pintura tendo como primeiro mestre Álvaro Amorim e, no atelier deste, manteve conhecimento e amizade com Balthazar da Câmara, Mário Nunes e Murillo La Greca. Entre os anos de 1945/47, passou a estudar com La Greca, recebendo do mestre as primeiras explicações sobre a pintura clássica. Na qualidade de legítimo representante da escola pernambucana de pintura, “revisa a estilização primitiva e arcaica, imprime a pureza da cor, filtra uma natureza telúrica e sensual em cada imagem que formula.” Considera-se um artista moderno, “um homem do seu tempo que não despreza as instituições, mas, que está a regular distância dos intuitivos sem crítica.” O simples prazer de pintar, leva-o a caminhos do mitológico e do profético.

                Brennand distinguiu-se desde cedo nos Salões do Museu do Estado de Pernambuco, obtendo no ano de 1947 o primeiro Prêmio. Interrogado sobre a conquista desses prêmios, respondeu: “Interrogar uma pessoa sobre o que prefere é despertar nela, uma dúzia de demônios coisas que nem sempre são fáceis de abordar, pois são demais íntimas e cativantes: as nossas manifestações artísticas, suas origens e maneiras de caminharmos através delas. Impossível separar a arte do nosso próprio drama… Que a arte volte ao seu primitivo lugar, que não sejam suprimidos a emoção e o instinto… essa viagem que vai da ciência a consciência e que quer dizer o repúdio total de tudo que não estava em você mesmo”. Em 1948, Cícero Dias realiza exposição no Recife, ocasião em que passa a se interessar pelas obras de Brennand, aconselhando ao seu pai manda-lo para estudos na Europa. Em 1950, Brennand foi novamente premiado pelo IX Salão de Pintura de Pernambuco, obtendo o prêmio de segundo lugar.

                Em 1949, viaja para a Europa e em Paris estuda pintura com Fernand Leger e André Lothe. Presenciando uma exposição de cerâmica de Picasso, interessou-se por essa técnica e as experiências feitas por Miró, Léger e Matisse. Na Umbria, Itália, segue um curso de cerâmica, na antiga região etrusca. Brennand participou de inúmeras exposições individuais e coletivas, Bienais e Salões, no Brasil e no exterior.

Em 1958, recebe do empresário Miguel Vita, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, a encomenda de um mural cerâmico de 49m2, para ser doado ao novo Aeroporto Internacional dos Guararapes, representando a primeira grande obra cerâmica do artista instalada em local público. Em 1963 é distinguido com o primeiro prêmio no concurso para mural, promovido pelo Banco do Brasil, no Recife e, nesse mesmo ano, é convidado pelo governador Miguel Arraes a assumir a chefia da Casa Civil do Palácio do Campo das Princesas. Essa passagem durou um curto período, devido ao golpe de estado que ocorreu em março de 1964. Entretanto, suas relações ampliaram-se, envolvendo o meio cultural e político e, pessoas do meio social ligadas às mais diversas atividades, desde organizadores de eventos oficiais até empresários que buscavam no governo apoios ou patrocínios públicos.

                Sua Oficina de Cerâmica na Várzea, a que se dedica em tempo integral (Pintura, Cerâmica e Escultura) é muito propriamente chamada de Catedral Mundial da Cerâmica, por Pietro Maria Bardi e, Castelo das Artes, por Armando Rocha. “Situada no centro de uma densa floresta, observa-se nos seus longos corredores povoados por sinistros seres de formas estranhamente excêntricas, com certos escorridos que lembra substâncias bioquímicas, que proporcionam aos seus argutos visitantes um mergulho num subconsciente estado de espírito angustiante, com a sensação de que existe ali o mistério da realidade. Seres estes que, despertam no crepúsculo, comunicam-se nos segredos da noite e dormem no limiar da aurora; que nascem aos olhos do irreal, fazendo-se penetrar no que para a humanidade seria um sonho universal por ser a falsa realidade coberta por sentimentos ambíguos proporcionando a sensação do que sentiria no inferno de Dante. Na entrada principal de um salão com uma tênue iluminação, existe uma inscrição (IMOTUS NEC INNERS) imóvel, mas não inerte o que justifica vida nos seres que ali habitam”.

                Oficina, termo que Brennand faz questão de chamar assim por ter origem na palavra latina Oficio (Officiu), que quer dizer Trabalho. Portanto, local de trabalho, evitando inclusive o francesismo Atelier. Ao mesmo tempo, há uma idéia de comunidade, de se poder formar o artesão – entre outras coisas isto também é uma escola de cerâmica, onde filhos de operários começam no aprendizado de modelagem; e é também a sua maneira, um centro experimental. Brennand também considera a idéia da Oficina como um templo, um centro cultural histórico e atemporal.

                Poucos sabem quando visitam o santuário de arte construído por Francisco Brennand, na sua Oficina de Cerâmica, que o ponto de compreensão inicial dos seus enigmas artísticos reside nas numerosas esculturas que representa o Ovo da criação. No pátio da sua imensa galeria, perto do pequeno lago, há uma dessas peças sob um pêndulo. Brennand vê no Ovo gigante a natureza germinadora do cosmos e da vida, a representação da divindade suprema. E o Ovo, em numerosos estágios da humanidade, tem estupenda diversidade de mitos cosmogônicos. O Ovo cósmico, para Brennand, foi a sua fonte inicial de inspiração. Esse Ovo se concentra e se multiplica na catedral mística, de inconfundível e singular beleza estética e inventiva, concebida por Francisco Brennand.

                Em 1977, o cineasta Fernando Monteiro dirigiu um filme em curta metragem com o título “Brennand: Sumário da Oficina pelo Artista”. O segundo trabalho cinematográfico sobre a Oficina Cerâmica Francisco Brennand, foi dirigido por Jayme Monjardim, em 1980. Em seguida, Jeneton Moraes Neto e Guel Arraes produzem o filme “Um Sonho Bárbaro / Francisco Brennand”. Em 1993, o Conselho Superior de Cultura do país apresenta como indicado ao Prêmio Interamericano de Cultura Gabriela Mistral o artista original e múltiplo Francisco Brennand, reforçando ainda mais a sua internacionalidade. Em dezembro desse mesmo ano, o Secretário Geral da Organização dos Estados Americanos, Embaixador João Baena Soares, informou à imprensa que o júri reunido em Washington, acabara de conceder o Prêmio Gabriela Mistral aos pintores Francisco Brennand, do Brasil, e Eduardo Kingman, do Equador. A entrega da premiação ocorreu em 1994, na sede da O.E.A. Entre as inúmeras homenagens recebidas, no dia 18 de agosto de 1994, a Câmara Municipal do Recife através dos vereadores Fred Oliveira e Celso Miranda, outorga-lhe a Medalha do Mérito José Mariano. Em dezembro de 1996, o Presidente da República lhe concedeu a Ordem do Mérito Cultural na Classe de Comendador. No mesmo ano teve seu nome incluído no The Dictionary of Art, publicado na Inglaterra.

                Ariano Suassuna, escreveu: “O mundo de Brennand não é, nem devia ser popular; mas revela uma identificação natural entre o sangue do artista e a linhagem cultural brasileira, formada pela confluência e pela fusão da raiz barroca e da raiz popular. Foi, aliás, do floral Brennandiano, de seus cantos e guerreiros entremeados por folhagens e frutos, de seus animais brasileiros recriados no deserto linear, tosco e vigoroso, de sua pintura achatada e de cores puras, de sua coloração arbitrária e não realista das figuras no espaço, de seu traço propositadamente grosseiro, popular e brasileiro, da pintura épica de seus murais de cerâmica, que surgiu muita coisa que anda hoje por ai, imitada ou descivilizada, mas ainda assim dando um testemunho de força e da vitalidade da origem”.

                Frederico Morais fez-lhe a seguinte crítica: “A pintura de Francisco Brennand tem cheiro e cor da terra… A sua sensibilidade e a sua percepção são conduzidos pelos ritmos da natureza, o vento, a chuva, o mar e a terra; assim como o tempo é sentido nas passagens bruscas do dia e da noite, segundo o ritmo das estações, ou com ajuda do canto do pássaro, da cor das frutas ou do próprio corpo quando faminto e cansado… O vigor e a macheza de sua pintura, a luminosidade intensa de seus quadros, são um hino à um viver mais sadio, mais natural, mais concreto. A morte quando aparece num dos seus quadros, no qual se vêem influência da literatura de cordel, tem uma conotação fatalista. Tem um sentido épico, reflete a grandeza e a dimensão humana, é uma morte-viva.”

 

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