Abelardo Rodrigues (PE)

Abelardo Rodrigues (PE)

ABELARDO BORGES RODRIGUES
Assina: Abelardo Olinda, PE, 28/05/1908 – São Paulo, SP, 18/12/1971.
PINTOR, DESENHISTA, COLECIONADOR E PAISAGISTA.

Seu pai foi o velho Augusto Rodrigues, dentista de profissão, colecionador de coisas raras e de coisas belas, poeta discreto, tradutor de simbolistas franceses, cujos versos eram publicados em folhetos requintados.

Seu tio, o famoso jornalista Mário Rodrigues. Era irmão do desenhista Augusto Rodrigues, pai do pintor Antônio Sérgio Rodrigues, primo do teatrólogo Nelson Rodrigues. Entre os vinte e os trinta e oito anos, Abelardo viveu no Rio de Janeiro, onde participou do movimento de renovação da década de 30.

Conviveu com Portinari, Goeldi, Heitor dos Prazeres, Dacosta, Pancetti, pintou os seus próprios quadros e começou a reunir o que viria a ser uma das maiores coleções particulares do país. Peças de sua propriedade formaram o núcleo de exposições brasileiras no Museu de Etnografia de Neuchâtel, no Museu dos Trópicos de Amsterdan, no Pavilhão do Brasil na Feira Internacional de Bruxelas e Ingelheim, na Alemanha.

Em Amsterdan, a exposição foi visitada por mais de trinta mil pessoas obtendo tal sucesso que Abelardo foi agraciado por S.M. a Rainha dos Países Baixos, com as insígnias de cavalheiro da Ordem de Orange-Nassau. Em Bruxelas, as imagens dos santos brasileiros fizeram com que Abelardo recebesse a medalha de Ouro. Na América Latina, sua maior contribuição foi doar a maior parte das peças que permitiram criar a seção brasileira do Museu de Arte Popular da Universidade do Chile.

Em Pernambuco, fundou o Museu de Arte Popular de Caruaru e o Museu de Arte Popular do Horto de Dois Irmãos.

Como pintor e desenhista, Abelardo realizou duas exposições individuais e participou de várias mostras coletivas. Fez também arquitetura paisagística: interessava-lhe, sobretudo o ajardinamento das margens das estradas, a fim de quebrar a monotonia das viagens. Fundou a Escolinha de Arte do Recife e por oitos anos a dirigiu e orientou. Participou intensamente do movimento cultural brasileiro, de inúmeras organizações e Instituições: Setor de Arte da Comissão Organizadora do 3º Congresso Nacional de Museus, em Salvador/BA; Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Instituto Histórico de Petrópolis; Comissão Nacional de Folclore; Departamento de Extensão Cultural e Artística de Pernambuco; Comissão Organizadora do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco; Comissão do Parque Histórico dos Guararapes; Arquivo Público do Estado de Pernambuco; Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais; Fundação Armando Álvares Penteado (como membro do Conselho do Museu de Arte Brasileira).

Suas coleções de Arte Sacra, de Artes Plásticas (pintura, desenho e gravura) de artistas famosos, de Arte Popular e de arte indígena, eram visitadas pela alta intelectualidade brasileira. “A Arte Popular teve o melhor do seu carinho.

Analisava-a com intuição e inteligência. Reconhecia a sua tradição própria. Não confundia o anonimato com ausência de personalidade do artista popular. Daí sua preocupação em identificar estilos, em preservar autorias, em estimular as técnicas e as características pessoais dos artistas que descobriu e animou”. Hoje, enriquece museus famosos como a de Arte Sacra no Solar Ferrão, em Salvador, na Bahia e, a de Artes Plásticas no Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, em Olinda, representando um rico patrimônio do povo brasileiro.

Amigo e incentivador dos artistas que constituíram a Sociedade de Arte Moderna do Recife foi também o grande promotor cultural e defensor do patrimônio artístico nacional.

Vale conhecer alguns depoimentos de personalidades pernambucanas sobre Abelardo Rodrigues: Renato Carneiro Campos registrou: (…) “Não conheci ninguém que exercesse como Abelardo Rodrigues a arte de conviver. Permanentemente solidário e presente nas horas difíceis dos amigos, ajudando sem alardes, esquecido de cobrar, exagerado nas doações. Seu cavalheirismo, a sua alegria de viver, a cordialidade, fazia dele uma pessoa sempre requisitada para qualquer tipo de reunião”. O mestre Gilberto Freyre, seu admirador, disse dele: (…) “Foi um colecionador que fez da atividade de colecionar uma devoção, uma quase ciência e uma verdadeira arte. Seu estilo de colecionador tinha qualquer coisa de religioso ao mesmo tempo de um tanto científico, além de artístico. Colecionava raridades histórica, sensível ao encanto poético de cada documento que salvava de morte melancólica para resguardá-lo do Tempo com cuidados quase científicos, ao mesmo tempo em que quase místicos”. Assim foi Abelardo, que no dizer de Hermilo Borba, outro encantado: “Abelardo não morreu, encantou-se”. (…) Zenaide Barbosa escreveu: “Abelardo não atinou apenas para as artes e suas coleções. Foi também um grande paisagista. Um poeta da natureza, um verdadeiro precursor da ecologia funcional que hoje entusiasma a tantos adeptos da defesa da Natureza. Ele está presente nas nossas Rodovias Federais, onde criou os jardins da Serra das Russas, o de Carpina, o de Limoeiro, entremeando vegetação nativa, pedras, lagos e alamedas sombreadas para descanso dos viajantes que ali ainda podem escutar os cantos dos pássaros e das cigarras nas tardes de verão”.

O crítico e artista José Cláudio da Silva redigiu: “(…) Tanto quanto na qualidade assinalada pelo crítico a respeito da arte de Augusto, a atividade de colecionador de Abelardo era também uma extensão do cotidiano ou até, ouvindo as histórias contadas por Márcia, filha, ou Irene, esposa, dá-nos de inverter os termos, passando o amor pelos nossos bens culturais – pelo qual deu a vida – a ser o viver principal, e o cotidiano a ser governado (parodiando eu aqui um verso de Carlos Pena) por aquelas gravíssimas perturbações solares provenientes de o seu existir de auto-investido curador dos nossos bens artísticos. No hospital, não era com a saúde que se incomodava e sim com a Igreja dos Martírios sendo demolida: pediu a Márcia para passar vários telegramas em tom meio azedo às autoridades brasileiras e Márcia, procurando demove-lo, aconselhou-o a não se preocupar com isso por hora e ele disse que se o quisesse menos preocupado passasse imediatamente os telegramas. Auto-investiu-se cavaleiro como se auto-investiu Dom Quixote: porque no mundo só os Dons Quixotes não são omissos nem cegos. Em nenhuma das coleções, seja a de arte sacra na Bahia, a de arte popular do Governo do Estado ou esta (predominantemente de desenhos e gravuras, mas também de algumas pinturas de grande importância), isoladamente ou em conjunto, deveremos ver senão uma notícia desse seu desmesurado amor pela produção artística; brasileira em primeiro lugar.

Folheando os álbuns em que ele guardava cartas, bilhetes, dos artistas – fonte a que os historiadores terão de recorrer para melhor conhecimento desses artistas – com um zelo que não dedicava aos documentos relativos aos seus próprios bens materiais, deparamo-nos com todo o capitulo da vida do artista brasileiro num período em que não havia lugar no mercado para o artista moderno mesmo quando já os seus nomes começavam a ganhar as manchetes.

É toda uma época de pureza excepcional. Comove, nesses papeis, a confiança na solidariedade. Nas residências nas quais moraram os Rodrigues, aqui em Pernambuco ou no Rio de Janeiro, parte das lembranças é da cara dos artistas que as freqüentavam como íntimo, como hóspede, como parente, como irmão”. (…)

PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES: 1965: SEMINÁRIO DE OLINDA / ACF – RECIFE E CANADÁ, “FEIRA DE ARTE”, OLINDA (PE) 1968: TEATRO SANTA ISABEL/ DEC-PMR, “PINTORES PERNAMBUCANOS”, RECIFE (PE) 1985: MUSEU DE ARTE BRASILEIRA/ FAAP, “ARTISTAS DE PERNAMBUCO – ACERVO MAC/PE”, SÃO PAULO (SP) 1986: MAC/PE / CCPE, “XXIX CONGRESSO COTAL (MOSTRA OBRAS DO ACERVO)”, OLINDA (PE).

BIBLIOGRAFIA
Costa e Silva, Alberto da. Catálogo da Exposição “O Espírito Criador do Povo Brasileiro, através da Coleção de Abelardo Rodrigues do Recife”, Palácio do Itamaraty, Brasília, 1972.
Cláudio, José. Catálogo – 1ª Exposição da Coleção Abelardo Rodrigues de Artes Plásticas. MAC/PE. Governo do Estado de Pernambuco, Recife, 1983.

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