Chico da Silva (AC)

Chico da Silva (AC)

FRANCISCO CHICO DOMINGOS DA SILVA
Assina: F.D.SILVA –  CHICO DA SILVA
No Alto Tejo AC, 1910 – Fortaleza CE, 1985.
PINTOR E DESENHISTA

Filho de índio peruano e mãe cearense, a data do seu nascimento é apenas aproximativa. Vindo para o Ceará aos seis anos de idade, fixou-se em Fortaleza. Exerceu, para sobreviver nos próximos anos pequenas atividades; foi sapateiro, tamanqueiro, mestre de oxigênio a carbureto, guarda de barco, escafandrista de tirar coisas do fundo do mar, consertador de guarda-chuva, um pouco de barbeiro e ajudante de marinheiro. Em Salvador/BA conheceu Maria Dalva da Silva, filha de uma baiana que vendia acarajé no Pelourinho, que passou a ser sua mulher, deixando uma prole de 12 filhos dos quais apenas 5 estão vivos. Entretanto, o que mais lhe agradava, já por volta de 1937 – conforme disse numa entrevista a Heloísa Juaçaba, em 1965 – era desenhar a carvão e giz sobre muros e paredes de casebres de pescadores da Praia Formosa. “Às vezes, quando via um muro caiado, sentia vontade de pintar e então eu pegava um pedaço de tijolo vermelho, que me servia de rubro ou de sanguíneo; de um bocado de mato verde tirava as cores embalsamadas da escuridão e da tristeza, e usava ainda um pedaço de carvão, que eu chamava de caon mortuário, pois fazia com ele o preto e o cinza – e começava a pintar os muros”. Foi nessa atividade que descobriu o crítico e pintor suíço Jean Pierre Chabloz, quando de sua primeira permanência em Fortaleza, entre 1943 e 1945, introduzindo-o então no conhecimento da aplicação do guache, técnica que não mais abandonou. Chabloz passou a divulgar os trabalhos do artista, encaminhando-os a exposições individuais e coletivas. Levou esses trabalhos para o Rio e depois para a França. No Rio, mais de 17 trabalhos foram expostos nos Diários Associados.

Sua primeira participação aconteceu no Salão de Abril, em 1943 em Fortaleza, depois na Galeria Askanasy, no Rio de Janeiro (1945), na Galerie Pour l’Art, de Lausanne (1950) e no Museu Etnográfico de Neuchâtel (1956). Os bichos fantásticos de Chico da Silva começaram a ser conhecidos, admirados e adquiridos, tendo em 1952 Jean Pierre Chabloz publicado um artigo entusiástico na prestigiosa revista francesa Cahiers d’Art. Com o passar dos anos, o caboclo analfabeto tornou-se um dos mais importantes pintores ingênuos brasileiros, expondo com freqüência em várias cidades do país e do exterior, conquistando menção honrosa na XXXIII Bienal de Veneza, em 1966.

Todo esse sucesso subiu a cabeça de Chico da Silva, despreparado para tanta fama e dinheiro. Passou de logo a se exceder na bebida e nos gastos com belas mulheres, louras de preferência; colocou dentes de ouro, dizendo-se “o boca rica”, e quanto mais ganhava, mais gastava. Igualmente, ele vendeu a marchands mais quadros do que poderia pintar, passando então a contratar ajudantes, verdadeiros autores dos guaches que ele apenas assinava.

Sobre o artista depôs o crítico de arte Rubens Navarra: “… os guaches desse artista indígena são qualquer coisa de muito sério. Esse índio é uma espécie de Dali em estado de natureza. Ao lado do seu surrealismo primitivo, chamemos assim, há um lado de arte-aplicada que podia servir excelentemente para ornamentos de cerâmicas, lembrando estampas chinesas de pássaros ou antigos vasos de civilizações passadas”. André Mauraux qualifica-o de “um artista primitivo dentre os maiores do mundo”.

PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS: 1943: SALÃO DE ABRIL, FORTALEZA (CE) 1945: GALERIA ASKANASY, RIO DE JANEIRO (RJ) 1949: BEAU REGARD, GENEBRA (SUIÇA) 1950: POUR l’ART, LOUSANNE (SUIÇA) 1952: GALERIE JEANNE BUCHER E CAHIER D’ART DE CHRIS ZERVOS, PARIS (FRANÇA) 1956: MUSEÉ ETHONOGRAPHIQUE DE NEUCHATEL (SUIÇA) 1963: GALERIA RELÊVO, RIO DE JANEIRO (RJ); GALERIA SELEARTE, SÃO PAULO (SP) 1965: GALERIA QUERINO, SALVADOR (BA); GALERIA GOELDI, RIO DE JANEIRO (RJ); EXPOSIÇÃO ARTE BRASILEIRA, NEUCHÂTEL (FRANÇA) 1966: PETITE GALERIE, RIO DE JANEIRO (RJ) 1967: GALERIA DEZON E GALERIA GEMINI, RIO DE JANEIRO (RJ); A GALERIA, SÃO PAULO (SP).

PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES COLETIVAS: 1965: GALERIA JACQUES MASSOL, “OITO PINTORES INGÊNUOS BRASILEIROS”, PARIS (FRANÇA) 1966: GALERIA ART, “INAUGURAÇÃO”, SÃO PAULO (SP); PETITE GALERIE, RIO DE JANEIRO (RJ) 1967: GALERIA RELEVO E GALERIA COPACABANA PALACE, RIO DE JANEIRO (RJ); IX BIENAL DE SÃO PAULO (SP) 1969: SALÃO VERDE DO HOTEL SAMAMBAIA E GALERIA POSTAL, SÃO PAULO (SP); SAGUÃO DO HOTEL DEL REY, BELO HORIZONTE (MG) 1970: CLUBE PUEBLO, MADRI (ESPANHA) 1971: III SALÃO NACIONAL DE ARTES PLÁSTICAS, FORTALEZA (CE) 1988: ESPAÇO QUADROS E OBJETOS DE ARTE E PINACOTECA, SÃO BERNARDO DO CAMPO (SP) 1990: JOCKEY CLUB, “EXPO APCA 90”, SÃO PAULO (SP) 1991: MUSEU RIO-PARDENSE, “IMAGINÁRIO POPULAR”(SP).

PRÊMIOS: 1966:  MENÇÃO HONROSA, XXXIII BIENAL DE VENEZA (ITÁLIA).
BIBLIOGRAFIA
Ayala, Walmir. Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos. Inst.Nacional do Livro/MEC, Brasília, 1980, v.1, p.247

Louzada, Julio. Artes Plásticas – Seu Mercado Seus Leilões. Julio Louzada, São Paulo,  v.1, p.909, v.2,p 947, v.3, p 1056, v.4, p 1036, v.6, p 1057.

Pontual, Roberto. Dicionário das Artes Plásticas no Brasil. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1969, p 491.

Rodrigues Galeria de Artes. Depto.de Pesquisa – Arquivo, Recife, 2005.

 

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