GERSON ALVES DE SOUZA
Assina: GERSON. Recife, PE, 19/06/1926 – Rio de Janeiro – RJ 2008 +.
PINTOR, DESENHISTA, GRAVADOR E ENTALHADOR.
Aos vinte anos de idade, Gerson deixa o Recife, fixando-se no Rio de Janeiro onde, como funcionário dos Correios e Telégrafos conheceu vários artistas, que muito lhe estimularam no trabalho autodidata que realizava. Augusto Rodrigues percebendo o seu talento levou-o, então, para a Escolinha de Arte do Brasil, onde além de aperfeiçoar-se no desenho, fez o Curso de Gravura. Passou a desfrutar de imediato prestígio no mundo artístico do Rio, construindo trabalhos com uma figuração ingênua, de fatura elaborada, fixando personagens e cenas populares, de inspiração religiosa e festiva.
A sua pintura merece destaque entre os melhores de nossos primitivistas. Está citado no Léxico de Pintores Primitivos (1967), de Anatole Jacovsky. Realizou várias exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, executando uma série de gravuras sob o título Altar Portátil, em museus de cidades norte-americanas. O Museu Internacional de Arte Naif do Brasil – MIAN tem no acervo obras de sua autoria.
Ruth Laus escreveu: “O assunto religioso dominou grande parte de sua pintura. Por certo as reminiscências do menino, que no interior conviveu com as cômodas repletas de imagens em barro e madeira, com características muito pessoais, os santos de Gerson mostraram sempre certa dramaticidade que foge a habitual doçura da imagem Luso-Brasileira, sendo mais encontrada nas culturas de origem espanhola”.
Roberto Pontual publicou a seguinte crítica: “Na pintura de Gerson, independentemente da variedade de situações, cabe à figura humana o predomínio absoluto. Encarando-nos sempre de frente, na postura hierática e densa que logo as relaciona com indícios de comportamento arcaico, o que se modifica na presença constante dessas figuras é o grau de tensão com que seus olhos enormes e fixos nos observam, em espanto, acusação ou súplica. Tal como em Antônio Maia, outro pintor ligado por origem e opção ao Nordeste, o sobrenatural se transfere para as telas, desenhos, gravuras e talhas de Gerson na forma de uma resultante de diálogo entre o ser humano e o seu inexplicado destino, que as manifestações da religiosidade popular possibilitam, registram e intensificam. Os vinte anos vividos na terra pernambucana natal, antes de deslocar-se para o Rio e trabalhar como carteiro, terão certamente estruturado sua propensão para redimensionar, sob impulso intuitivo, os mitos e a iconografia religiosa espraiada por toda aquela região, até, mais abaixo, o Leste Setentrional.
Mesmo quando não referindo diretamente as marcas do sobrenatural, as figuras mantêm ali nível de fundamento popular, dramatizadas nas suas festas, ritos, carnavais e circos.
E, apesar das festas implícitas, essa não é uma pintura que pretenda o registro do júbilo, mas o de uma tristeza atavicamente relacionada às dúvidas do estar no mundo; daí as funções das cores sombrias e pesadas que a povoam, bem como do olhar inquisitivo de seus personagens”.
José Roberto Teixeira Leite, diz: “Gerson é um pintor ingênuo, dos melhores, em verdade, do país. Sua pintura, em grande parte consagrando temas místicos, da religiosidade popular nordestina, exprime-se através de rigoroso desenho, com boa estruturação formal e realçada por sensível colorido”.
PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS: 1964: XICO-ART GALERIA, RECIFE (PE) 1965 a 67: GALERIA GOELDI, RIO DE JANEIRO (RJ) 1969: GALERIA CAVILHA, (Juntamente com sua mulher, a pintora Elza de Oliveira Souza), RIO DE JANEIRO (RJ) 1972: GALERIA CHICA DA SILVA, RIO DE JANEIRO (RJ) 1996: MUSEU INTERNACIONAL DE ARTE NAIF, “50 ANOS DE PINTURA”, RIO DE JANEIRO (RJ).
PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES COLETIVAS: 1959 a 1969: MAM/RJ, “VIII ao XVIII SALÃO NACIONAL DE ARTE MODERNA” (ISENÇÃO DE JÚRI-1966), RIO DE JANEIRO (RJ) 1959: “SALÃO DA ESTRADA”, RIO DE JANEIRO (RJ); MAM/SP, “V BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO” (SP) 1960: PETITE GALERIE, “MOSTRA COLETIVA”, RIO DE JANEIRO (RJ) e em PORTO ALEGRE (RS); MUSEU IMPERIAL DE PETRÓPOLIS, PETRÓPOLIS (RJ) 1963: GALERIA DO IBEU, “MOSTRA COLETIVA”, RIO DE JANEIRO (RJ) 1964: COLÉGIO REAL, “PINTORES BRASILEIROS”, LONDRES (INGLATERRA) 1965: YALE UNIVERSITY, “ARTE LATINO-AMERICANO”, LONDRES (INGLATERRA); UNIVERSIDADE DE MINAS GERAIS, “COMPORTAMENTO ARCAICO NA PINTURA BRASILEIRA”, BELO HORIZONTE (MG); MAM/SP, “VIII BIENAL INTERNACIONAL”, SÃO PAULO (SP); GALERIA GOELDI, “MOSTRA COLETIVA”, RIO DE JANEIRO (RJ) 1966: MAM/BA, “I BIENAL DA BAHIA”, SALVADOR (BA); BRASILIANISCHE KÜNST HEUTE, (ALEMANHA E ÁUSTRIA); “12 PINTORES PRIMITIVOS BRASILEIROS”, (VARSÓVIA, MOSCOU E PRAGA) 1967: “PRIMITIVOS ACTUALES DE AMÉRICA”, (ESPANHA); GALERIA GOELDI, “MOSTRA COLETIVA”, RIO DE JANEIRO (RJ) 1968: “LIRISMO BRASILEIRO”, (PORTUGAL, ESPANHA E FRANÇA); TEATRO SANTA ISABEL/ DEC-PMR, “PINTORES PERNAMBUCANOS”, RECIFE (PE) 1969: “ANTIGONOVO”, GUARUJÁ (SP) 1972: “TRIENAL DE ARTE INGÊNUA DE BRATISLAVA”, (POLÔNIA) 1976: RODRIGUES GALERIA DE ARTES, “COLETIVA DE INAUGURAÇÃO”, RECIFE (PE) 1977 – RODRIGUES GALERIA DE ARTES, “ARTE BRASILEIRA NO NORDESTE-LEILÃO II”, RECIFE (PE) 1985: MAB-FAAP, “ARTISTAS DE PERNAMBUCO – ACERVO MAC/PE”, SÃO PAULO (SP) 1988/1989: PAÇO IMPERIAL, “O MUNDO FASCINANTE DOS PINTORES NAIFS”, RIO DE JANEIRO (RJ).
BIBLIOGRAFIA
Louzada, Júlio. Artes Plásticas-Seu Mercado, Seus Leilões. Júlio Louzada Editora, São Paulo, 1984, v.1, p.930.
Ayala, Walmir. Dicionário de Pintores Brasileiros. Spala Editora, Rio de Janeiro, 1986, v.1, p.347.
Pontual, Roberto. Arte Brasil Hoje. Collectio Artes Ltda., São Paulo, 1972, p.168/9.
Teixeira Leite, José Roberto. Dicionário Crítico da Pintura no Brasil. Artlivre, Rio de Janeiro, 1988, p.220.
Rodrigues, Augusto. “Um lírico entre envelopes”. Ultima Hora, Rio de Janeiro, 20 de junho de 1962.
Ayala, Walmir. Dicionário de Pintores Brasileiros. (Edição Rev. e Ampliada por André Seffrin), Editora UFPR, Curitiba, 1997, p.167.