Guita Charifker (Recife, Pernambuco, 1936 – 2017).
Pintora, desenhista, gravadora e escultora.
Em 1953, estuda desenho e escultura no Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna (SAMR), no Recife, ao lado do gravador Gilvan Samico (1928-2013) e do pintor José Cláudio (1932), entre outros, sob orientação de Abelardo da Hora (1924-2014).
Colabora, em 1964, na fundação do Atelier da Ribeira, em Olinda, Pernambuco, do qual participa também o pintor João Câmara (1944). Em 1966, cria e dirige a Galeria do Teatro Popular do Nordeste.
Desde a década de 1970, realiza pesquisas em gravura em metal na Oficina do Ingá, Niterói, sob orientação da gravadora Anna Letycia (1929). Em 1974, recebe o prêmio de viagem ao México no Salão Global de Pernambuco. Depois, trabalha no ateliê de João Câmara e frequenta por algum tempo o ateliê do escultor Frans Krajcberg (1921). Organiza o Ateliê Coletivo, em Olinda, com pintor Gil Vicente (1958), José Cláudio e Gilvan Samico, entre outros, em 1985.
Em 2001, é publicado o livro Viva a Vida! Guita Charifker: aquarelas, desenhos, pinturas, pela Secretaria de Educação e Cultura do Recife, e em 2003 são apresentadas exposições retrospectivas no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), Rio de Janeiro, e na Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pina_).
Abelardo da Hora escreveu: “Trata-se inegavelmente de uma pintora de grande vitalidade, visível pelo seu conteúdo humano e telúrico. Sua pintura é realista, dissimulada de certo gosto romântico pela presença emotiva da junção de violetas e terras, que parece unir realidade e sonho. Chega quase ao expressionismo sem violência e sem tom polemico; entretanto é profundamente sensível. Elabora sua mensagem sem atingir o formalismo sistemático e frio, muito menos o patético. É acessível e amena mesmo dizendo coisas sérias. Não é superficial nem fútil (…) e se afirma com uma pintura que possui o sabor das coisas permanentes”.
Desde o fim da década de 1960, Guita Charifker produz desenhos de inspiração surrealista, associando formas humanas a animais e vegetais, realizados com precisão de detalhes, em obras de forte erotismo. Trabalha de forma quase monocrômica, com traços tênues e manchas a bico-de-pena e aguada, revelando um universo onírico de formas simbólicas.
Passando por técnicas como a gravura em metal, encontra seu principal meio de expressão na aquarela. Realiza naturezas-mortas com plantas e frutos regionais, explorando padrões decorativos obtidos a partir de folhagens e ramos de árvores, ou de objetos presentes na cena, como tapetes ou tecidos. Em sua obra, revela o interesse pela produção de Matisse (1869-1954).
Nas aquarelas são frequentes também as paisagens, inspiradas muitas vezes na exuberante vegetação do quintal de sua residência em Olinda ou nas localidades do litoral pernambucano. São constantes as cenas com naturezas-mortas, em que a paisagem está presente, vista através de uma janela ou em uma pintura na parede. O artista, utiliza uma gama cromática surpreendente e luminosa.
Como nota o crítico Casimiro Xavier de Mendonça (1947-1992), a partir de uma viagem realizada ao México na década de 1980, e de uma estada no atelier de Frans Krajcberg, a produção de Guita Charifker se transforma. As aquarelas tornam-se ampliações de detalhes da natureza, e folhas e troncos, pretexto para áreas de cor. Entre as pinturas a óleo destacam-se também as paisagens nordestinas, realizadas com grande simplificação formal, com pinceladas amplas e uma paleta que busca a luminosidade da aquarela, como em Rio Capiberibe (1984), ou em Taíba, Ceará (1986).