Murillo La Greca (PE)

Murillo La Greca (PE)

VICENTE MURILLO LA GRECA
Assina: MURILLO LA GRECA – Palmares, PE, 03.08.1899 – Recife, PE, 1985.
PINTOR E PROFESSOR

Nasce com o nome VICENTE LA GRECA. No ano de 1953, incorpora o nome MURILLO por influência do seu irmão mais velho José (incentivador da sua pintura), em homenagem ao famoso pintor espanhol Bartolomeu Estevão Murillo.

Em 1911, aos 12 anos, começa a pintar seus primeiros quadros, despertado pelo apoio que recebia dos padres italianos e alemães do Colégio Salesiano, no Recife, principalmente pelo padre Solano. Neste mesmo ano visita uma exposição do pintor italiano Carlo de Servi, iniciando-se em artes plásticas com o mesmo, estudando pelo período de um mês.

Em 1917, aos 18 anos, viaja para o Rio de Janeiro, freqüentando o atelier dos irmãos Henrique e Rodolfo Bernadelli.

Em 1920, La Greca viaja para Roma/Itália, através de Pietro Brigo por recomendação dos irmãos Bernadelli, para estudar pela manhã no Real Instituto de Beli Arte, à tarde na Associazone Artística Internationall e à noite na Academia Del Nudo.
Sua permanência na Itália foi por sete anos, estudando com intensa dedicação. Conhece Giacometti, são dessa época as obras: ‘Castália’, ‘A Morte do Fanático’ e ‘Velha Sentada’.

Em 1927, recebe a medalha de prata no Salão Oficial de Pintura do Rio de Janeiro, com a obra “Os últimos fanáticos de Canudos”.

Em 1932, foi lavrada a Ata de Fundação criando a Escola de Belas Artes de Pernambuco, onde La Greca está incluso como um dos fundadores, sendo Presidente na época o escultor Bibiano Silva.
No mês de julho, é empossado como Professor Catedrático na referida Escola, ocupando a Cadeira de Desenho de Modelo Vivo, tendo ministrado por amor à arte aulas de desenho e pintura, doando ainda várias de suas obras a essa Entidade.

Em 1933, viajando ao Rio de Janeiro conhece Cândido Portinari, com quem manteria correspondência por um longo tempo. Neste mesmo ano, casa-se com Silvia Decusatti (sua aluna), no Rio de Janeiro.

Em 1935, Murillo pintou para o salão de Honra do novo Quartel General da 7ª Região Militar, sete retratos de figuras da república e preside a Comissão da Exposição de Artes a ser promovida pela Escola de Belas Artes de Pernambuco.

Em 1936, retorna à Europa, especializando-se nos processos de pintura afresco com o professor Emílio Notte, catedrático de decoração da Real Academia de Belli Arti, de Nápoles/Itália.

Em 1946, retornando ao Brasil, pinta o afresco “Os Quatro Evangelistas”, na Basílica da Penha, nos pendentes da cúpula do Altar Mor, em Recife.

Em 1950, realiza uma de suas grandes obras; a pintura de um painel com 7 x 3,5 metros com o título “A Primeira Aula de Medicina”, na sala de Congregação dos professores da Faculdade de Medicina – UFPE.

Em 1950-1952, pinta os quadros “O Engenheiro Vauthier” e “O Conde da Boa Vista” para o Salão Nobre do Teatro Santa Isabel.

Em 1967, Murillo La Greca fica extremamente abalado com a morte de sua esposa e incentivadora Sílvia, deixando de produzir por um período de dois anos.

Em 1972, volta a pintar a gigantesca tela sobre Hipócrates, na UFPE, dedicando-se intensamente a sua conclusão.

Em 1976, viaja à Itália com seu amigo Carlos Alberto, participando de um movimento de redescoberta cultural da Calábria (região de seu pai).

Em 1981, pinta a obra “Anchieta entre Silvícolas”, para doar ao Santo Padre João II (quando de sua primeira viagem ao Brasil), tela não concluída devido ao seu precário estado de saúde. Neste mesmo ano, é eleito membro titular da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, tomando a cadeira de número 34.

Em 1982, recebe a condecoração “Ordini Al Mérito Delle República Italiana” – Grau Cavaleire nº. 1854 Série III.

Em 1985, por desejo expresso do pintor em preservar seu acervo, a Prefeitura da Cidade do Recife cria por portaria nº.390, uma Comissão para efetivar o Museu Murillo La Greca, cujas instalações o pintor conhece pouco antes de falecer. Neste mesmo ano, é inaugurado o museu, por Decreto Municipal Nº. 13.301, com um acervo de aproximadamente 350 obras.

Pierre Chalita escreveu no catálogo da exposição “Murillo La Greca – Desenhos”: “Um idealista. Tudo lhe é negado, mesmo a oportunidade de dar a conhecer a sua obra, sufocada pelo mecanismo do comércio da arte e da propaganda politicamente orientada”.

“Murillo La Greca, insiste em sobreviver dentro do seu universo ameaçado. Mesmo a nova sociedade, dona do tempo e do espaço, carente de inovações de gosto medíocre e inconstante, e as imposições de um comércio da arte inescrupuloso que transforma o artista em artesão, forçando-o a produção de obras de efeito fácil e atraente, conseguem dobrar este idealista”.

“Mas, para tantos, de que outra maneira poderia o artista atual atender a essa especulação, senão produzindo um maior número de obras, portanto de qualidade progressivamente inferior, proporcionando o fabuloso lucro dos proprietários das Galerias de Arte, cada vez mais exigentes”?

“Para Murillo La Greca, esta coação da matéria sobre o espírito, cria uma situação insuportável fora de seu mundo subjetivo, mais que suficiente para inibir o seu espírito criador. Tem ele a natureza impenetrável ao sistema atuante e é-lhe psicologicamente impossível coordenar esta nova situação frente à Arte, enquanto objeto de produção industrial. Portanto, não há lugar para sua Arte”.

“Poderíamos admitir que Murillo La Greca, dentro de sua figuração poética, não se deixou imbuir do espírito dadaísta? Exatamente. Não sofre a influência do movimento que não alcança mais os efeitos contraditórios, caóticos da proliferação de vanguardas.
Apenas, ele acredita as gerações que sucederam o movimento anarquista, não compreenderam a sua mensagem, quando só lhe atribui valores políticos de uma sociedade asfixiada de um universo já pequeno.
Ele é apenas conivente de uma filosofia estética que proclama as diretrizes de uma cultura não de após guerra, mas uma cultura atemporal. Recusa-se a participar de um advento que se impôs pela negação, que arrebata aos homens, a alegria de expressar-se artisticamente”. (…)
(…) “Murillo La Greca, como outros artistas de tantas partes do mundo, compreendeu a mensagem dadaísta, sem, no entanto escravizar-se às idéias revolucionárias de então. O manifesto era. A vida existe.
Para as criaturas que conhecem a natureza humana, não haverá jamais mundo melhor, pois os homens só estão felizes quando subjugam outros homens; a escravidão, as hierarquias sociais lhes são criações.
Não é sem razão o exemplo de Caim e Abel escrito no livro do ‘Antigo Testamento’”.

“Murillo La Greca, apesar da violência inerente ao homem do século vinte, continua seu sonho colorido. Tem o universo distante da violência contestatória. Porque não dizer, então, que este grande artista brasileiro, possuidor de técnica plástica e conhecimento histórico-artístico, não contesta – pois o verbo está em moda – os excessos dessa mensagem dadaísta, tão mal assimilada que a torna já acadêmica”?

O jornalista Orismar Rodrigues, registrou em 18 de abril de 1982 no Diário de Pernambuco: “Atencioso e bem humorado, o pintor vive apenas cercado dos seus trabalhos, de um gato (sempre a fugir com medo de ratazanas), de um empregado, Hamilton de Carvalho Chaves, para que vai deixar em testamento a casa onde reside, e de um antigo piano de cauda alemão Bluther, cuja fábrica já foi extinta, e que pertenceu à sua mulher Sílvia, falecida há mais de 15 anos”.

INDIVIDUAIS: 1978: INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE ALAGOAS, “DESENHOS”, MACEIÓ (AL); GALERIA DE ARTE PEDRO AMÉRICO – CENTRO DE CULTURA DA UFPB, “MURILLO LA GRECA”, JOÃO PESSOA (PB).
COLETIVAS: 1927: SALÃO NACIONAL DE BELAS ARTES, PRÊMIO MEDALHA DE PRATA COM O TRABALHO “OS ÚLTIMOS FANÁTICOS DE CANUDOS”, RIO DE JANEIRO (RJ) 1944 – MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES, “I EXPOSIÇÃO DE AUTO-RETRATOS”, RIO DE JANEIRO (RJ) 1967: GALERIA O SOBRADO 7, “EXPOSIÇÃO DE ARTES PLÁSTICAS” (Doação ao Museu de Artes das Alagoas), OLINDA (PE) 1980: MAC/PE, “MOSTRA DE PAISAGENS”, OLINDA (PE).

ACERVOS: Faculdade de Medicina da UFPE, A primeira aula de Medicina – Hipócrates; BANDEPE; Quartel General da 7ª Região Militar, Sete retratos de figuras da República; Teatro Santa Isabel, O Engenheiro Vauthier e O Conde da Boa Vista; Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, Auto-Retrato; Basílica de Nossa Senhora da Penha, Recife (PE), Os Quatro Evangelistas; Palácio São Joaquim da Arquidiocese do Rio de Janeiro, São Francisco falando aos pássaros; Convento dos Capuchinhos, Recife (PE), A Hora Nona.
Suas obras também fazem parte de acervos de importantes colecionadores.
CITAÇÕES: CARLOS RUBENS, Pequena História das Artes Plásticas no Brasil (1941); TEODORO BRAGA, Artistas Pintores no Brasil (1942); FERNANDO PIO, Roteiro de Arte Sacra (1961)

BIBLIOGRAFIA
D’oliveira, Fernanda, Diário de Pernambuco, “Erros técnicos causam interdição…”, Recife, 15/01/86, Viver, p.1
Home Page, Museu Murillo La Greca, http://www.neoplanos.com.br/murillo, Recife, 12/03/99.
Marques, Norma, Escola de Bellas Artes de Pernambuco, “Aspectos de Estudo Histórico”, Recife, março de 1988.
Pontual, Roberto, Dicionário das Artes Plásticas no Brasil, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1969, p.298.
Rodrigues Galeria de Artes. Setor de Pesquisa – Arquivo, Recife, 1999.

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