Tereza Costa Rêgo (PE)

Tereza Costa Rêgo (PE)

Tereza Costa Rêgo (Recife, Pernambuco, 1929 – Idem, 2020).

Artista plástica e gestora pública. Representante do figurativismo pernambucano, utiliza a pintura para representar o universo feminino, questões políticas e históricas, aliada a questões autobiográficas.

Inicia sua formação como artista em 1944, no curso de pintura da Escola de Belas Artes de Pernambuco (Ebap). Em 1965, muda-se para São Paulo e realiza o bacharelado em história na Universidade de São Paulo (USP). Em virtude da ditadura militar, passa a viver no Chile em 1972 e, posteriormente, na França, onde realiza um curso de pós-graduação em história na École des Hautes Études en Sciences Sociales [Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais] da Sorbonne. Durante os anos no exterior, vive clandestinamente usando o pseudônimo de “Joanna Arruda”, com o qual assina as pinturas produzidas na época.

Com a Lei da Anistia, retorna ao Brasil em 1979 e vai viver em Olinda, mergulhando na vida de artista. Faz mestrado em história na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em que desenvolve uma pesquisa sobre a comunidade artística de Olinda, e exerce diversos cargos públicos ligados à cultura. No ano de 1989, assume a diretoria do Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), no Recife, onde trabalha por dez anos. À frente dele, ressalta a temática indígena presente em obras do acervo, como no 42º Salão Infantil de Arte (1993), que foca a arte indígena Karajá. Em 2009, assume a diretoria do Museu do Mamulengo – Espaço Tiridá, em Olinda.

A década de 1980 demarca o início de uma nova fase do trabalho artístico de Tereza. Suas experiências na Brigada Portinari e no coletivo da Oficina Guaianases de Gravura trazem elementos novos para sua prática. Na Brigada Portinari, une-se a outros artistas para pintar os muros de Recife e Olinda durante as eleições. Vivencia a política por meio da arte e passa a pintar em grandes dimensões. Integra o coletivo da Oficina Guaianases de Gravura de 1983 a 1995, onde entra em contato com novas técnicas e materiais.

O universo infantil é um dos temas retratados em suas obras, representando a infância solitária da artista: são crianças brincando sozinhas com brinquedos ou animais de estimação, como na pintura Boneca (1984). Outro tema recorrente é o universo feminino, cuja construção se dá por meio de imagens de mulheres desnudas e independentes, trabalhadas por um figurativismo lírico e nostálgico, em que também se manifestam traços autobiográficos.

Na série Imaginário do Bordel – o Parto do Porto (2003), Tereza faz a releitura de lembranças de sua infância, dos diálogos de seus irmãos. O intuito não é tratar objetivamente dos bordéis recifenses, mas representar um universo erótico e fantasioso: “(…) eu nunca entrei em um bordel. Não por preconceito ou censura, mas – ao contrário – pra não matar o encanto que tanto fascinou as noites de minha infância”1. Na tela Bairro do Recife (1992), retrata prostitutas sensuais, rodeadas por felinos, frutas e licores, em um ambiente aconchegante e voluptuoso, veneradas em tom respeitoso por um cavalheiro que oferece um buquê de flores.

Um dos recursos presentes em suas obras é a colagem, como na pintura A Partida (1981), em que preenche o fundo da tela com bilhetes escritos pelo marido. A citação de um elemento já trabalhado em outro quadro também é comum, como em Natureza Morta (2008), em que reproduz uma pintura assinada por ela no interior de outra obra. Outro recurso recorrente é a hibridização entre texto e imagem, como na exposição Diário das Frutas (2013), realizada no Centro Cultural Correios do Recife, em que une a pintura às crônicas do escritor pernambucano Bruno Albertim. As cores quentes também são características marcantes de suas pinturas, embasadas em camadas de tons vermelhos sobre o suporte pintado de preto. A estrutura cromática comunica uma atmosfera pictórica dramática, que reflete a poética de sua prática artística.

Em algumas produções, Tereza Costa Rêgo apresenta de forma mais contundente reflexões políticas aliadas à pesquisa histórica. Na série Sete Luas de Sangue (2000), exibida no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam/Recife), a artista elenca sete marcos da história do Brasil para representar, simbolicamente, em sete painéis de grandes dimensões, a identidade nacional. Na pintura Zumbi dos Palmares ou Herdeiros da Noite (1993), trata da escravidão; em A Gênese ou Massacre dos Índios (1997), representa a dizimação dos povos indígenas; em O Ovo da Serpente – Problemas da Terra (1999), retrata a questão da reforma agrária; em Pátria Nua – Ceia Larga Brasileira (1999), critica a classe política nacional.

Outras obras icônicas da artista são Apocalipse de Tereza (2009), um painel de 12 x 2,2 metros, em que elementos religiosos e mitológicos representam a história da civilização; e Mulheres de Tejucupapo (2015), em que reflete sobre política e o feminino ao interpretar um dos mitos da história nacional e pernambucana: a expulsão dos holandeses no Brasil, que acontece em um vilarejo de Pernambuco, em uma batalha liderada por mulheres.

A atuação de Tereza Costa Rêgo como pintora e gestora pública contribui com a circulação das artes brasileira e pernambucana. Suas representações sobre a figura feminina e a história nacional, aliadas a diferentes recursos técnicos e autobiográficos, colaboram com os estudos sobre a identidade brasileira e a representatividade das mulheres nas artes visuais.

COLETIVA: 2022: XXI EXPO DE ARTES DO IMIP (Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira) / FAF (Fundação Alice Figueira); MUSEU DO ESTADO DE PERNAMBUCO, Recife (PE)

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