WELLINGTON VIRGOLINO DE SOUZA
Assina: W. Virgolino. Recife, PE, 1929 – 1988.
PINTOR, DESENHISTA E GRAVADOR.
Infância pobre e precoce; inclinação para o desenho com definição de oficio, em 1950, além da nítida inquietação social na temática adotada. O trabalhador era o seu usual personagem sob contundente expressão de protesto, mas, também de rico imaginário onde a reinvenção de objetos de sua infância como: espadas de madeira que não feriam, escudos de latas de lixo, capacetes de panelas e violões de caixotes eram transformados em obras de extraordinário cromatismo com cenas do nordeste de grande lirismo. Ingressou na Sociedade de Arte Moderna do Recife, presidida por Hélio Feijó e Abelardo da Hora e logo em seguida no Ateliê Coletivo, dedicando-se de princípio a pintura e a escultura e logo em seguida à gravura, tomando parte em exposições coletivas desde 1951, e expondo individualmente a partir de 1960. Na sua obra sem abandonar a figuração, retrata de maneira bem-humorada, em grossos contornos, tipos populares nordestinos, crianças e vagabundos, evidenciando, em seus quadros, aquilo que Gilberto Freyre denominou de morenidade. É uma pintura de cores fortes e chapadas, alegre e descontraída, da qual se acha ausente o drama e o sofrimento, e que finca raízes profundas, na mais pura fonte popular.
Em 1958 é agraciado com a comenda Honra ao Mérito Maçônico. Em 1974, através de Júri Nacional teve seis quadros escolhidos para ilustrar os bilhetes das principais extrações da Loteria Federal. Em 1975, a Guariba Editora de Arte publica o álbum “Wellington Virgolino e o Pavão Misterioso”. Em 1982, recebe a comenda de Ordem do Mérito de Guararapes.
Em 1969, João Câmara escreveu a seguinte crítica: “Vejo a pintura de Virgolino como se deve ver a obra: pela sua seqüência, pela sua continuidade, por suas próprias repetições e redundâncias. Como se não importasse cada quadro por si, mas o sofrimento do tempo em sua produção… senhores do tempo em sua produção… senhores colecionadores, se por ventura não o entendeis, comprai-o. Se não merecerdes ao menos, vos reconhecereis em sua obra. Com certa demora e certa paciência”.
Em 1973, o sociólogo Gilberto Freyre registra: “Wellington Virgolino identifica o que lhe parece mais belo e mais plasticamente nacional nos tipos brasileiros, com essa, por ele sempre vivenciada, em vez de escondida, modernidade. Sua pintura é como se fosse uma constante glorificação, por um artista tão admirável no traço como no colorido, na modernidade da gente do seu país”.
O crítico de arte Jacob Klintowitz, em 1977, escreveu: “Há, certamente, muitos tipos de pintor, e a nossa época caracteriza-se pela capacidade de abranger a todos na generalidade do que se convencionou chamar de arte contemporânea. Wellington Virgolino pertence à categoria primeva dos fabuladores. A sua preocupação é inteiramente narrativa. Ele é capaz de compor e contar as histórias e estórias de sua gente e de seu psiquismo. Por suas mãos fluem as velhas lendas, as imagens irmãs da infância, os terrores e os amores que ele viveu ou soube existir, nessa mistura de imaginação e real, componentes eternos da fábula. E nesse desfiar permanente do poeta liberto, Wellington Virgolino encontrou as características pessoais de seu temperamento, às constantes de uma grafia particular, construiu enfim, a sua personalidade pictórica. Hoje, pode ser dito, ele ocupa o seu lugar entre os narradores e fabuladores que escrevem e constroem uma história episódica do mundo brasileiro. Não concordo com aqueles que pretendem opor artistas como Virgolino aos criadores de temas mais técnicos ou filiados mais diretamente a história da arte moderna e contemporânea. Seria pretender separar e dividir o universo cultural com a estigmatização da iconografia e da expressão, ou opor a nacionalidade ao universal. Felizmente a cultura se faz e constrói por caminhos próprios e intrínsecos, e não por determinações dogmáticas. A liberdade para entender e aceitar artistas como Wellington Virgolino foi conquistada pela cultura, vale dizer, pela capacidade histórica do homem de apropriar-se de todas as formas expressivas, como válidas e humanísticamente importantes. Wellington Virgolino representa, no Brasil, mais um dado no registro do encontro com a iconografia e a significação do nosso acervo imaginário” (…)
Walter Zanini afirma: “A raiz popularesca… amolda-se perfeitamente ao caráter simbólico e arcaizante de suas representações, dominada por certo tema exposto com clareza e concisão, não obstante a avassaladora presença dos motivos de preenchimento que movimentam e enriquecem todos os aspectos da composição. Na cor densa e úmida transparece ainda a sensibilidade equatorial desse pintor que soube definir uma própria e instintiva fantasia poética”.
PRINCIPAIS INDIVIDUAIS: 1960: GALERIA TEATRO DO PARQUE, RECIFE (PE) 1964: GALERIA ASTRÉIA, SÃO PAULO (SP); GALERIA ROZEMBLIT, RECIFE (PE) 1965: GALERIA ONIX, RECIFE (PE); SOCIEDADE CULTURAL GERMANO BRASILEIRA, RECIFE (PE) 1967: GALERIA ASTRÉIA, SÃO PAULO (SP) 1969: RANULPHO GALERIA DE ARTE, RECIFE (PE) 1970: PETITE GALERIE, RIO DE JANEIRO (RJ) 1971: RANULPHO GALERIA DE ARTE, “OS SIGNOS”, RECIFE (PE); GALERIA DA PRAÇA, RIO DE JANEIRO (RJ) 1973: A GALERIA, SÃO PAULO (SP) 1975: MINI GALLERY, RIO DE JANEIRO (RJ) 1977: RANULPHO GALERIA DE ARTE, SÃO PAULO (SP) 1978: BANDEPE (AG. BOA VIAGEM), “OS SETE PECADOS CAPITAIS”, RECIFE (PE); KATTYA GALERIA DE ARTE, SALVADOR (BA) 1979: MINI GALLERY, RIO DE JANEIRO (RJ); RANULPHO GALERIA DE ARTE, “A ARTE DE VIVER BRINCANDO”, RECIFE (PE) 1980/ 82: RANULPHO GALERIA DE ARTE, SÃO PAULO (SP) 1983: RANULPHO GALERIA DE ARTE, RECIFE (PE); CLÁUDIO GIL STUDIO DE ARTE, RIO DE JANEIRO (RJ) 1984: RANULPHO GALERIA DE ARTE, SÃO PAULO (SP) 1992: RANULPHO GALERIA DE ARTE, “INESQUECIVEL VIRGOLINO”, RECIFE (PE).
PRINCIPAIS COLETIVAS: 1951: MEPE, “X SALÃO ANUAL DE PINTURA”, RECIFE (PE) 1952: MEPE, “XI SALÃO ANUAL DE PINTURA”, RECIFE (PE) 1953: MEPE, “XII SALÃO ANUAL DE PINTURA”, RECIFE (PE) 1954: CLUBE DE GRAVURA DE PORTO ALEGRE, “GRAVURA BRASILEIRA”, (PAÍSES DA EUROPA, ÁSIA E AMÉRICA DO SUL); MEPE, “XIII SALÃO ANUAL DE PINTURA”, MENÇÃO HONROSA – PINTURA, RECIFE (PE) 1955: MEPE, “XIV SALÃO ANUAL DE PINTURA”, MENÇÃO HONROSA – ESCULTURA, RECIFE (PE) 1956: MEPE, “XV SALÃO ANUAL DE PINTURA”, RECIFE (PE) 1957: MEPE, “XVI SALÃO ANUAL DE PINTURA”, RECIFE (PE) 1958: MEPE, “XVII SALÃO ANUAL DE PINTURA”, RECIFE (PE) 1959: MEPE, “XVIII SALÃO ANUAL DE PINTURA”, RECIFE (PE) 1960: MEPE, “XIX SALÃO ANUAL DE PINTURA”, 2º PRÊMIO – PINTURA, RECIFE (PE) 1961: MAM/SP, “VI BIENAL INTERNACIONAL”, SÃO PAULO (SP); MEPE, “XX SALÃO ANUAL DE PINTURA”, 1º PRÊMIO – PINTURA, RECIFE (PE) 1962: “XVII SALÃO DE BELAS ARTES”, BELO HORIZONTE (MG) 1963: SOLAR DO UNHÃO, CIVILIZAÇÃO DO NORDESTE”, SALVADOR (BA); MAM/SP, “VII BIENAL INTERNACIONAL”, SÃO PAULO (SP) 1965: MAM/RS, “SEIS ARTISTAS PERNAMBUCANOS”, PORTO ALEGRE (RS); SEMINÁRIO DE OLINDA / ACF – RECIFE E CANADÁ, “FEIRA DE ARTE”, OLINDA (PE) 1966: MAM/BA, “I BIENAL NACIONAL DE ARTES PLÁSTICAS”, SALVADOR (BA) 1967: MAC/SP, “OFICINA PERNAMBUCANA”, SÃO PAULO (SP); “IV SALÃO DE ARTE CONTEMPORÂNEA”, BRASÍLIA (DF); GALERIA O SOBRADO 7, “EXPOSIÇÃO DE ARTES PLÁSTICAS” (Doação ao Museu de Artes das Alagoas), OLINDA (PE) 1968: TEATRO SANTA ISABEL/ DEC-PMR, “PINTORES PERNAMBUCANOS”, RECIFE (PE) 1970: ARTHUR TOOTH GALLERY, “SOUTH AMERICAN COUNTRY ART”, LONDRES (INGLATERRA) 1971: RANULPHO GALERIA DE ARTE, “NATAL 71”, RECIFE (PE) 1972: COLLECTIO GALERIA DE ARTE, “ARTE/BRASIL/HOJE: 50 ANOS DEPOIS”, SÃO PAULO (SP) 1973: RANULPHO GALERIA DE ARTE, “FRANCISCANA”, RECIFE (PE) 1974: HOTEL NACIONAL / RANULPHO GALERIA DE ARTE, “4 ARTISTAS DE PERNAMBUCO”, BRASÍLIA (DF) 1975: RANULPHO GALERIA DE ARTE, “COLETIVA INAUGURAÇÃO NOVA SEDE”, RECIFE (PE); MAC/PE, “I SALÃO DE NUS ARTÍSTICOS”, OLINDA (PE) 1976: RODRIGUES GALERIA DE ARTES, “COLETIVA DE INAUGURAÇÃO” E “EXPO PANORÂMICA DE NATAL”, RECIFE (PE); RANULPHO GALERIA DE ARTE, “IV COLETIVA DE VERÃO – OS PINTORES DO LIRISMO BRASILEIRO”, RECIFE (PE) 1977: RANULPHO GALERIA DE ARTE, “ARTE SACRA”, RECIFE (PE); RODRIGUES GALERIA DE ARTES, “PINTORES BRASILEIROS”, RECIFE (PE) 1980: HOTEL MERIDIEN, “ARTISTAS PLÁSTICOS PERNAMBUCANOS”, LISBOA (PORTUGAL); RODRIGUES GALERIA DE ARTES, “NUS E NATUREZA VISTOS POR ARTISTAS BRASILEIROS”, RECIFE (PE) 1981: “IV EXPOSIÇÃO BRASIL-JAPÃO”, TÓKIO, KIOTO, ATAMI (JAPÃO); GALERIA VILA RICA, “COLETIVA DE MAIO”, RECIFE (PE); OFICINA 154, “GERAÇÃO 65 – PINTURA & POESIA”, OLINDA (PE) 1982: GALERIA LULA CARDOSO AYRES – P.C.R., “I EXPOSIÇÃO DE ARTE LATINA”, RECIFE (PE) 1985: MUSEU DE ARTE BRASILEIRA/ FAAP, “ARTISTAS DE PERNAMBUCO – ACERVO MAC/PE”, SÃO PAULO (SP) 1986: MAC/PE / CCPE, “XXIX CONGRESSO COTAL (MOSTRA OBRAS DO ACERVO)”, OLINDA (PE); MEPE, “XXXIX SALÃO DE ARTES PLÁSTICAS DE PERNAMBUCO”, SALA ESPECIAL, RECIFE (PE) 1988: RANULPHO GALERIA DE ARTE, “OBRAS RARAS”, RECIFE (PE).
BIBLIOGRAFIA
Ayala, Walmir. Dicionário de Pintores Brasileiros. Spala Editora Ltda., Rio de Janeiro, 1986, V.II, p.421.
Catálogo / Convite. Ranulpho Galeria de Arte, São Paulo, 1977.
Pontual, Roberto. Dicionário das Artes Plásticas no Brasil, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1969, p.543.
Teixeira Leite, José Roberto. Dicionário Crítico da Pintura no Brasil. Artlivre, Rio de Janeiro, 1988, p.529.