Será possível perceber o caráter, as motivações e quem sabe até alguns acontecimentos importantes pelos quais um artista tenha passado ao observarmos as obras que produz?
Os artistas são capazes de mostrar e construir sua arte realizando escolhas conscientes ou o que há em seu íntimo sempre irá imprimir uma marca?
Muitas das teorias sobre a interpretação dos trabalhos artísticos evoluíram a partir das ideias de Carl Jung, expandidas posteriormente por autores como Jolande Jacobi e Susan Bach.
Os desenhos expressam grandes quantidades de informações sobre os conteúdos psíquicos, são usados inclusive como forma de analisar traços da personalidade em testes psicológicos.
Um exemplo bastante comum é pedir que desenhem uma casa, uma árvore e uma pessoa, e a partir desse referencial aparentemente tão simples é possível perceber várias características presentes na personalidade de um indivíduo, tais como a relação consigo mesmo e com os outros, se está voltado ao passado ou para o futuro, suas tendências instintivas, sua capacidade afetiva e espiritualidade.
O processo artístico traz conteúdos que permitem o retorno ao equilíbrio.
Segundo Jung as atitudes de uma pessoa podem ser muito focadas em um único aspecto da vida, logo se torna necessário uma forma de compensação para que exista estabilidade.
A teoria da compensação sugere que o inconsciente completa ou compensa as atitudes unilaterais promovendo o equilíbrio.
Um símbolo compensatório representa as áreas negligenciadas de modo a trazer atenção consciente para promover mudanças. Esses símbolos surgiriam através dos sonhos e da produção artística.
Como então devemos proceder para que a arte seja uma forma de autoconhecimento?
Devemos começar observando cores, formas, o tamanho do papel em relação à proporção da imagem, a direção do movimento dos traços, os materiais que foram usados, o que se gosta de representar, o que não se gosta, o que está presente e o que está ausente nas obras, os sentimentos que transmite.
É importante não procurar significados estanques como o uso de determinada cor corresponde ao sentimento x, cada pessoa é única e os significados dependem de muitos fatores. O fundamental é o questionamento e não a tentativa de chegar a conclusões e certezas.
Uma pintura onde somente foi usada a cor preta, por exemplo, poderíamos rapidamente chegar à conclusão que o artista está em depressão ou luto, porém há vários elementos a se considerar que fogem ao nosso alcance imediato. Havia outros materiais disponíveis naquele momento?
É importante não fazer julgamentos. Os artistas usam tanto o consciente quanto o inconsciente no processo de criação de suas obras e será o somatório da capacidade de observação, apuramento técnico, experiência anterior e características psíquicas que contribuirão para um resultado final.
A ideia não é saber decifrar com exatidão o que está por trás do desenho, mas fazer perguntas sobre o que a figura possa estar comunicando, e dessa forma nos tornarmos mais conscientes.
A interpretação analítica da produção artística permite reconhecer aspectos de nós mesmos, nossas fraquezas, medos, forças e potenciais, fornecendo uma percepção mais profunda de quem somos e dessa forma contribuir para uma jornada de autoconhecimento.
BIBLIOGRAFIA
FURTH, Gregg M. O Mundo Secreto dos Desenhos – Uma abordagem junguiana da cura pela arte. Editora Paulus, 4ª edição, 2011
MORAIS, Vanderlei. O Significado do teste da árvore. 2011. Disponível em http://www.gpportal.com.br/
POR ANIELA DARIENZO 18 de agosto de 2017