LUCIANO PINHEIRO
Assina: LUCIANO PINHEIRO 4Recife, PE, 17/09/1946.
DESENHISTA, GRAVADOR, PINTOR E ARQUITETO.
Em 1966 fez parte da Oficina 154 (Cooperativa de Artes Plásticas Oficina 154), em Olinda, onde permaneceu até a extinção do grupo. Em 1973, conclui o curso de Arquitetura, pela Universidade Federal de Pernambuco. Em 1977, inicia seus contatos com a técnica litográfica por intermédio de João Câmara e, forma com outros artistas o Grupo Guaianases. No ano seguinte, incorpora-se ao grupo de fundadores da OFICINA GUAIANASES DE GRAVURA, onde ocupou a função de diretor-artístico até 1980. Em 1982, funda a Brigada Portinari, juntamente com Cavani Rosas, Clériston, etc. e nesse mesmo ano, é convidado como expositor no II Simpósio Nacional de Artes Plásticas, Presença das Regiões, onde apresenta trabalho sobre o tema: Brigada Portinari, uma experiência coletiva de Arte e Política. Em 1983, juntamente com Cavani Rosas, Petrônio Cunha, Antônio José do Amaral e Álvaro Vieira, fundam o Atelier Coletivo Aurora. Em 1986, viaja para a Europa onde, em Paris, mora com a família por dois anos, participando do “Ateliers des Orteaux”, a convite de alguns amigos, trabalhando junto com vinte artistas de diversas nacionalidades. Em fins de 1987 retorna ao Brasil e reassume seu atelier em Olinda, fundando em 1989 o Atelier Coletivo de Olinda, junto com Gilvan Samico, Guita Charifker, Eduardo Araújo, José Cláudio, Giuseppe Baccaro, José de Barros e Gil Vicente, fazendo no ano seguinte curso de xilogravura com Gilvan Samico. Em 1991, é recusado no Salão Nacional de Artes Plásticas de Brasília, pelo Instituto Brasileiro de Arte e Cultura (Rio de Janeiro), que o convida, em 1992, para integrar a “Comissão de Seleção do Projeto Macunaína 1992″. Nesse mesmo ano, participa do projeto “Fernando de Noronha – 3 Visões“, a convite da Companhia Editora de Pernambuco (CEPE) e a Fundação Vitae de São Paulo concede-lhe uma bolsa. Em 1993, participa da Comissão de Seleção do Projeto Macunaíma, no Instituto Brasileiro de Arte e Cultura IBAC, no Rio de Janeiro. Entre 1997/1999, integra o Colégio Eleitoral do Prêmio Multicultural Estadão, de São Paulo.
Luciano afirma; “ninguém deve esperar de mim inovações ou adesões as novas escolas ou tendências. Nunca me preocupei com isso. Já fui chamado de néo-expressionista, abstrato, figurativo e até neofauvista. Meu trabalho, será como sempre, marcado apenas por fases ou descobertas pessoais”.
Eduardo Bezerra Cavalcanti, em julho de 1983, escreveu: “Com o fascínio pela imagem pictórica expressiva, Luciano concretiza uma viagem no tempo. Tentativa de entender o destino humano numa dimensão existencial ampla: desde aspectos de sua origem remota, a percepções e sentimentos da realidade presente, e a previsão do futuro, e da morte, enquanto mistérios, incerteza, dualidade da própria vida. Retrospecção e prospecção. Procura da descoberta. Tentativa de discernir o sentido do nosso tempo. Cada situação registrada simbolicamente no quadro é um fragmento arqueológico do nosso tempo”. (…)
“Longo período dedicado ao desenho, depois às aquarelas, em 79 e 80 às primeiras pinturas, enquanto concluía uma série notável de litografias”. (…)
“Com o pintor, a perspectiva de uma temática mais abrangente coincide com o empenho de independência em relação a qualquer estilo institucionalizado da expressão artística”. (…)
(…) “Encontramos em Luciano, um colorista sui generis. Vale-se das cores puras ou prepara nuanças e luminosidades, combinações contrastantes, ora chapados lisos, fortes texturas, ora transparências, raspagens, tintas bem diluídas, superfícies ásperas “dando às vezes a impressão de um desgaste natural pelo tempo“. Explora o gesto expressivo, gráfismos sobrepostos a regiões cromáticas previamente executadas, cria atmosferas de sonho, formas distorcidas, representações arcaizantes da figura humana, sugere ventanias, movimentos giratórios rompendo propositalmente as leis de equilíbrio e gravidade. No entanto, apesar desta tendência crescente à abstração, Luciano permanece um pintor necessariamente figurativo. Mostra-se sensível a configurar liricamente formas-simbolos na estruturação de suas paisagens: formas embrionárias, seres em redomas, túneis, símbolos do aprisionamento, da viagem interior, da penetração, do in-sight, morros, seios, o primeiro contato com o mundo, a fecundação, paisagem fetal, precipitações, saltos de ou para um mundo além, pirâmides, cruzes, símbolos religiosos ambíguos, conflitantes, exorcismos, o milagre, a eternidade, formas, movimentos, ritmos, idéias, a terra, o ar, água, pedra, vácuo” (…).
“Outras pinturas sugerem paisagens que podem ser continuadas em qualquer direção: ‘… São escavações mentais (…), tentativa de buscar para a arte o lado mágico e religioso que motivou a criação, desde o homem das cavernas até hoje’. O ser humano navega no espaço (díptico, 1981) e Homem e conquista (políptico, 1982) deixam clara esta crença antiga, esta faculdade mágica do movimento contínuo do homem no universo. ‘… O artista segue encontrando situações inesperadas, decifrando mistérios, sondando e brincando com a existência (…)’. Tempo e espaço podem ser uma extensão infinita, como uma prospecção arqueológica, e o homem caminha também para o vazio, o vácuo, a morte. Seja isto decorrência do esquartejamento – da matéria dissolvendo-se em plena paisagem -, mas sempre mistério, travessia, passagem“.