Pigot

JEAN-MARC PIGOT

Assina: PIGOT 4 Paris, FRANÇA, 31/12/1957.

PINTOR E DESENHISTA

                Aos sete anos de idade Pigot se iniciou no desenho e pintura participando em 1987 de sua primeira exposição, no Grand Palais, em Paris, após rigorosa seleção dos artistas expositores. Após este acontecimento, por várias vezes expôs no Salon des Indépendents e Salon D’automne. Estudou Ciências Econômicas na Sorbonne. Em 1983/84, de passagem pelo Brasil, trabalha como cenógrafo no Club Mediterranée, em Itaparica, Bahia. Entre 1984 e 94, pintou inúmeros painéis em “Trompe-L’Oeil” na França, Itália, USA e Arábia Saudita.

                Em 1994, passa a residir no Brasil, fixando residência no Recife. O folclore e as paisagens urbanas e do campo o impressionam, levando-o a reproduzi-las pictoricamente com o cromatismo próprio dessa região. Sua pintura reflete um desenho seguro através de um estilo muito próprio que identifica de imediato o autor.

                Prof. Ailton Lima, (Conselheiro do Centro de Estudos Estéticos Brasileiro), fez-lhe a seguinte crítica: …”Dentro de uma proposta básica como documentador realista ele consegue manipular com extrema habilidade um volume enorme de dados informativos em composições de grande beleza plástica. Suas soluções traduzem um refinamento característico daqueles artistas que não se contentam em ocupar apenas as dimensões físicas do quadro. Extrapolam as dimensões reais do mesmo e vão muito além, pois envolvem um complexo filosófico. São poesias que traduzem exatamente instantes de vida”.

                Fernando Lúcio, (Professor de Artes na Universidade Federal), fez a seguinte apresentação: (…) ”Pigot desenvolveu seu trabalho em Paris, cidade onde nasceu, e tem uma bagagem técnica bastante ampla, mistura do naturalismo dos mestres clássicos, mas com dominante impressionismo manifestado nas suas pinceladas decididas e coloridas lembrando Claude Monet, Degas, Gauguin e tantos outros. O seu trabalho nos estimula ao imensurável prazer de “ver uma obra de arte” e ao mesmo tempo nos incita a memória de uma herança cultural”.

Maria Carmen

MARIA CARMEN DE QUEIROZ BASTOS

Assina: MARIA CARMEN 4 Recife, PE, 18/03/1935.

PINTORA, DESENHISTA e ESCULTORA.

                Apesar de dedicar-se inicialmente à escultura, é no desenho e na pintura que Maria Carmen descobre, em tempos recentes, o meio expressivo mais funcional e fecundo.  Nasce artista, como diz a própria, não se descuidando em aprimorar o seu talento através de grandes mestres. Participa de inúmeras exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, sendo agraciada com importantes premiações.

                Em 1959, no Rio de Janeiro, estuda escultura com Humberto Cozzo e em 1962, de volta ao Recife, faz esculturas no Ateliê de Bibiano Silva, freqüentando em seguida o MCP/Movimento da Cultura Popular, estudando desenho com Abelardo da Hora, Wellington Virgolino e José Cláudio da Silva. Ainda em 1962, lhe são conferidos dois primeiros prêmios (escultura e desenho), pelo Museu do Estado de Pernambuco, no XXI Salão de Pintura.  Realiza ainda, sua primeira exposição individual de desenhos e esculturas na Galeria de Arte do Recife e participa da exposição II Panorâmica de Artes Plásticas Pernambucanas, no Clube Internacional, promovida por Fernando Rodrigues, Ladjane Bandeira e Ivan Carneiro.

                Em 1963, ensina pintura em tecidos no MCP e participa da exposição “Civilização do Nordeste”, no Solar do Unhão, em Salvador.

                Em 1964, a convite de Pietro M. Bardi realiza uma individual de desenho no MASP. Convidada por Walter Zanini, diretor do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, para participar do movimento internacional PHASES, com sede em Paris.

                Em 1965, participa de várias exposições coletivas no Brasil e no exterior e de uma individual na Galeria Bonino, no Rio de Janeiro.  Toma também parte na última exposição coletiva da Galeria da Ribeira, que encerra suas atividades.

                Em 1966, participa do movimento para a criação do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, Trabalha no seu Ateliê em Recife e no Ateliê + 10, em Olinda.

                Em 1967, realiza no Museu de Arte Contemporânea da USP, a mostra “Oficina Pernambucana”.

                Em 1968, há uma mudança radical na linha do seu desenho. Neste mesmo ano, ilustra o livro “Casa Grande e Senzala” (II Edição), de Gilberto Freyre e participa de várias exposições no exterior, além de Fortaleza/CE e Recife/PE, e obtém o Prêmio de Aquisição do I Salão de Arte Moderna de Santos/SP.

                Em 1969, Em Paris, faz o primeiro contato pessoal com Edouard Jaguer, renovando os desenhos das exposições itinerantes do grupo PHASES. Recebe prêmio no Salão do Estado, em Fortaleza, Ceará.

                Em 1972, trabalha na fábrica de Tecidos CIP, em Camaragibe, como desenhista, padronista e colorista, permanecendo até 1975. Posteriormente, desempenha as mesmas funções na Fábrica Paulista (Aurora) e Fábrica Capibaribe, havendo mudanças no curso do seu trabalho, intensificando-se na pintura, com tendência expressionista.

                Em 1973, participa da inauguração da Galeria Nega Fulô, em Recife.

                Em 1976, Viaja pela Europa e Oriente. De volta ao Brasil, firma contrato de exclusividade com Renato Magalhães Gouvêa – Escritório de Arte (São Paulo) e participa da inauguração da Galeria Gatsby de Arte, em Recife.

                Em 1977, realiza individual na Gatsby Arte, em Recife/PE.

                Em 1978, participa de uma mostra coletiva na Gatsby em Recife, e em São Paulo, realiza sua primeira individual. Viaja ainda para o Rio de Janeiro, Porto Alegre, Buenos Ayres e Bariloche. No Paço das Artes, em São Paulo, expõe o quadro “O Grande Baile”.

                Em 1979, Maria Carmen realiza uma individual na Galeria Artespaço.

                Em 1981, participa de algumas coletivas em São Paulo e inicia o seu trabalho em litogravura na Oficina Guaianases de Gravura, em Olinda.

                Em 1985, participa de várias exposições, entre as quais a individual de desenho na Galeria Vicente do Rego Monteiro do Instituto Joaquim Nabuco.

                Em 1986, Volta a morar em Olinda, realizando uma individual na Galeria Lautréamont.

                Em 1988, expõe individualmente no Gabinete de Arte Brasileira, em Recife.

                Em 1989, lhe é conferida uma sala especial no Salão de Arte Contemporânea de Pernambuco.

                Em 1991, participa da exposição “Pernambucanos”, na Galeria Metropolitana de Arte Aloísio Magalhães, no Recife. Viaja em seguida à Europa. Na volta, executa 25 pinturas para o Hotel Sheraton Petribú; viaja em seguida para os Estados Unidos. Em seguida, participa no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, da mostra “O que faz você, geração 60?” – Jovem Arte Contemporânea revisitada.

                Em 1992, participa da exposição “Fernando de Noronha – 3 Visões”, no MAC-PE. Realiza uma individual no Espaço Cultural Pallon.

                Em 1998, é agraciada com o Prêmio AESO com o diploma pela sua contribuição no processo de enriquecimento da cultura pernambucana, Olinda (PE).

                O crítico Roberto Pontual publicou: “No desenho, a agilidade e a minúcia tornaram-se desde logo marcas características, amparadas numa tendência irrefreável de conduzir ao fantástico, embora ela própria classifique seus desenhos como naturalistas, intermediários entre a natureza e a arte (‘Tudo o que faço é baseado na natureza. Um dos meus temas apaixonantes é o Agreste, seco e árido; ele não é só um convite para desenhar, é o próprio desenho’). De qualquer modo, o trabalho de Maria Carmen tem pouco a pouco intensificado a propensão para o surrealismo ou o realismo mágico, ao mesmo tempo em que seus desenhos chegam a aproximar-se, quando vistos pouco mais à distância, de uma abstração com formas fantásticas, viscerais, diluidoras e redimensionadoras da figura. A minúcia chegou a ponto, em certa fase, de construir verdadeiras cidades de mínima e múltipla miniaturização, ou cartas caligráficas de textos quase microscópicos, em alinhamentos que sugeriam puro desenho, e não símbolos verbais. O traço ágil e a fantasia, que são duas formas de uma mesma vontade interior de gesto, continuam presentes nos desenhos mais tranqüilos, menos orgânicos, em torno de temas populares do Nordeste e da Bahia”.

ACERVO: MUSEU DO ESTADO DE PERNAMBUCO 4 MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO 4 MUSEU DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO 4 MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE SÃO PAULO 4 EMBAIXADA DO BRASIL EM ROMA 4 INSTITUTO JOAQUIM NABUCO DE PESQUISAS SOCIAIS 4 GALERIA METROPOLITANA DE ARTE DO RECIFE 4 COLEÇÃO EDOUARD JAGUER, – PARIS 4 COLEÇÃO ABELARDO RODRIGUES – RECIFE 4 MUSEU DE ARTE MODERNA DE STRASBOURG 4 MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE PERNAMBUCO 4 ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS 4 HOTEL SHERATON PETRIBÚ DE PERNAMBUCO.

ILUSTRAÇÕES: 1968 – II VOLUME DA EDIÇÃO POPULAR DO LIVROCASA GRANDE E SENZALA“, DE GILBERTO FREYRE.

José Barbosa

JOSÉ BARBOSA DA SILVA

Assina: JOSÉ BARBOSA 4 Olinda, PE, 1948.

PINTOR, GRAVADOR, ENTALHADOR E ESCULTOR.

Em 1960, na oficina de seu pai, conhece o pintor Adão Pinheiro, quando passa a entalhar os seus desenhos. Em 1965, cria junto com Guita Charifker, Adão Pinheiro, João Câmara, Vicente do Rego Monteiro, João Câmara e outros artistas, o movimento de arte da Ribeira/Olinda. Organiza com Janete Costa o I Salão de Arte Popular em Natal/RN e, em 1966, participa da Oficina 154 em Olinda/PE. Nessa mesma época transfere-se para o Rio de Janeiro iniciando-se na gravura em metal na Escolinha de Arte do Brasil, com o Prof. Orlando Dasilva. No Rio, realiza decorações de entalhes para o Hotel Savoy.

Realizou inúmeras exposições individuais no Brasil e no exterior. Em 1972, transfere-se para a Europa, fixando-se em Colônia/Alemanha e posteriormente em Paris/França, montou atelier em Meudon com Roseline Granet, Jean Paul Riopelle e Frondrerie Berjac. Além de restaurar trabalhos (esculturas) de Miro, fez restauração em uma mansão em Conque, Rouergue. Em 1977, retorna ao Brasil e trabalha em nível de exclusividade com Renato Magalhães Gouveia – Escritório de Arte, tornando-se posteriormente seu representante.

Gil Vicente, no catálogo 30 Anos de Arte, registrou: “(…) Todas as referências e influências se fundem há anos em Zé Barbosa. A tradição do seu povo e a cultura pictórica do mundo atual derrete em seu fogo interior. Essas obras não é mais isso nem aquilo. Nem Jota Borges nem Chagall. Nem Seu Lourenço nem Picasso. Nem o branco nem o preto. Nem o índio. É apenas tudo isso: José Barbosa”.

José Roberto Teixeira Leite, em 1980, registrou em catálogo a seguinte crítica: “O nome de José Barbosa costumava ser relacionado até bem poucos anos atrás exclusivamente com um meio expressivo que ele, muito jovem ainda, sozinho conseguira consagrar no ‘Sul-Maravilha’: a talha nordestina, de extração popular. Lembro-me, por exemplo, de uma primeira exposição organizada no Rio de Janeiro, na finada Galeria Goeldi, em que o então garoto José Barbosa conseguiria impressionar críticos e arquitetos, artistas e colecionadores com seu talento forte, com sua originalidade: a talha, até então o patinho feio de nossas artes visuais, espécie de tourist art para americanos de gosto duvidável, tinha enfim seu representante maior, e através ele se conquistava foros de maioridade”.

“Passaram-se os anos, José Barbosa viajou e por muito tempo ninguém mais lhe viu os trabalhos. Reapareceria depois, retornando não sei de quais Alemanhas da vida, tendo acrescentando, à técnica primeira, outra nova, que desde logo soube manipular com extrema mestria: a aquarela, não a aquarela de transparências sutis e relações cromáticas e formais delicadas, mas uma aquarela rude e forte, cheirando à terra nordestina da qual nasceu, e de que se alimenta”. (…)

                                                                                                                                         

PRÊMIOS: 1964 – DECA, “Salão de Artistas Estreantes”, 1º PRÊMIO EM PINTURA, RECIFE (PE) 1965 – ESCOLA DE BELAS ARTES, PRÊMIO EM ESCULTURA, RIO DE JANEIRO (RJ) 1966 – MUSEU DE ARTE MODERNA, “Salão dos Transportes”, 1º PRÊMIO EM ESCULTURA, RIO DE JANEIRO (RJ) 1968 – BIENAL AMERICANA DE GRABADO, MENÇÃO HONROSA, SANTIAGO (CHILE) 1970 – X SALÃO NACIONAL DE ARTE MODERNA, ISENÇÃO DE JÚRI, RIO DE JANEIRO (RJ) 1973 – GRAND PALAIS, PRIX “BERNHEIN-JEUNE QUALITÉ DE LA VIE”, PARIS (FRANÇA) 1979 – MUSEU DO ESTADO, “XXXII Salão Oficial de Arte”, RECIFE (PE) 1985 – MUSEU DO ESTADO, “XXXIII Salão de Artes Plásticas”, RECIFE (PE).

ILUSTRAÇÕES: & POESIAS GALOISES, de Guel Arraes, PARIS/FRANÇA & POEMAS ARGELINOS, de Everardo Norões (Edições Pirata), RECIFE/PE & MÉMÓRIA DAS ÁGUAS, de Fernando Falcão, PARIS/FRANÇA & POEMAS DO AMOR VIRIL, de Paulo Azevedo Chaves (Editora Pool), RECIFE/PE & ALBUM OLINDA (Gravura em Metal), OLINDA/PE.

Guttmann Bicho

Guttmann Bicho, Galdino

Pintor. Petrópolis, RJ, 1888 – Rio de Janeiro, RJ, 1955.

 

Descendente de suíços. Passou toda a sua infância em Sergipe, retornando ao Rio na época de iniciar seus estudos de arte. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios e em seguida na antiga Escola Nacional de Belas Artes, onde concluiu seus estudos tendo por mestres Belmiro de Almeida, Zeferino da Costa e Rodolfo Almoedo, estudando ao lado de Modestino Kanto, Pedro Bruno, Paulo Mazzuchelli e André Vento.

Influenciou ativamente a vida artística carioca, pois, com seu espírito inquieto e temperamental, foi um dos precursores das tendências modernas, pelo gosto nas pesquisas de luz dos impressionistas. Teve várias participações no Salão de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde obteve Menção Honrosa de Segundo Grau, Pequena Medalha de Prata, Prêmio de Viagem à Europa, Pequena Medalha de Ouro e Prêmio de Viagem pelo Brasil. No Estado do Maranhão, absorveu o tema para suas últimas paisagens. No trabalho Panneau Decorativo, que o levou a Europa em 1921, utilizou a técnica pontilhista do impressionismo, empregando a mistura ótica das cores que pintores como Seraut e Sigmac utilizavam nos fins do século XIX.

Guttmann foi o pintor retratista de Agripino Grieco, Farias Brito, Belisário Pena,  e Catulo da Paixão Cearense, além de ter ilustrado a edição da História do Brasil, comemorativa do Centenário da Independência, escrita pelo historiador Rocha Pombo, ao lado de quem fez viagem de pesquisa pelo norte do país.

Dedicando-se também a cerâmica, introduziu em 1947, na Escola Técnica Nacional do Rio de Janeiro, o referido curso.

Algumas de suas obras fazem parte do acervo do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, do Museu Antônio Parreiras, em Niterói/RJ e no Museu de Arte de Santa Catarina/PR.

 

Fernando Areias

FERNANDO MANUEL FERREIRA MONTEIRO AREIAS

Assina: Fernando Areias 4 Recife, PE, 17/04/1954.

PINTOR E ENTALHADOR

Fernando desde cedo freqüentou a Escola Americana do Recife, onde, estimulado pelo professor Marcílio Reinaux, inicia o seu trabalho artístico na arte do entalhe. Helena Pessoa de Queiroz, sempre se referiu ao trabalho de Fernando, em sua página do Diário de Pernambuco, como arte filigrana ou rendilhada, comparando seus trabalhos em madeira a bico-de-pena.

Sua atuação na arte sempre foi isolada, procurando o saber artístico individualmente. Foi com 19 anos que viajou na Europa apresentando suas talhas e conhecendo outras formas de arte que tanto vieram influenciar o seu trabalho futuro. Seus trabalhos centralizados nos temas de igrejas barrocas e balcões como o tão conhecido de Olinda, encontram-se hoje, na sua maioria, fora do país, foram vendidos para a Holanda, Inglaterra, Japão, Espanha, Portugal entre outros. Em Washington DC e South Virgínia fez conferências sobre arte barroca (motivação de suas talhas) e, expôs no escritório da Varig e na sede da OEA.

Em 1974, participa da primeira exposição coletiva na Galeria da Casa Holanda com Maria Pessoa, no Recife.

Fernando afastou-se do mundo profissional das artes depois de ter finalizado um dos seus trabalhos mais importantes em talha, a “Via Sacra”, executada em três anos. Esta lacuna temporária no campo das artes deveu-se aos cursos que freqüentou e/ou completou como o de Medicina, Letras e Administração, além das graduações em Inglês, como o Cambridge, o Proficency e o Toffel. Esta bagagem cultural associada ao passar dos anos permitiu o seu regresso em 1999, na pintura, com grande “força e maturidade”. Fernando é membro da Árvore – Cooperativa de Actividades Artísticas na cidade do Porto, Portugal.

Sobre as obras de Areias, Ignes Fiúza registrou: “A força do trabalho de Areias com figuras despojadas, mostra maturidade com os pincéis. É uma obra ousada que segue o caminho dos grandes mestres, nem sempre com o intuito de agradar, e sim fazer. Respeito e liberdade são as palavras que me soam mais afinadas ao apreciar as suas telas”.

Vital Corrêa de Araújo, (presidente da UBE-PE) escreveu: “A luminosidade, em forma de clamor, é inerente ao ato criador, ao gesto de executar a obra, como se fluísse música da mão do pintor, como se dos rostos, das roupas, do corpo nu, dos objetos emergisse luz duradoura e intensa, luz alegre e própria; como se Fernando usasse tintas estrelares, brilhos e purpurinas de galáxias, em suas telas, inoculadas com profusão no corpo branco da tela”.

José Cláudio explica bem a presença de Fernando na arte: “Fernando Areias já é um pintor de grande força e expressão, equivale a dizer também de total domínio dos meios técnicos para chegar a isso. Esse ‘já’ faz-se necessário porque nos vários ‘quase’ que encarou na vida, indo até quase ao fim nas profissões de médico, de economista entre outras tentativas menos acadêmicas, a arte, primeiro a talha depois a pintura, tem sido uma constante de sua vida. Vida vivida e retornada. Que sempre recomeça. Dá para perceber: a pintura chegou para ficar. A temporada de experiências está encerrada, aprendido tudo que era de aprender. Agora é pintura ou morte. […]”

Fédora

FÉDORA DO REGO MONTEIRO FERNANDES

Assina: FÉDORA R. MONTEIRO e/ou FÉDORA4 Recife, PE, 03/02/1889-1975.

PINTORA E PROFESSORA

                Fédora tem como irmãos os pintores Joaquim e Vicente do Rego Monteiro de quem foi orientadora, tendo se desenvolvido num ambiente predominantemente artístico. Em 1910, estudou na antiga Escola Nacional de Belas Artes, RJ, onde foi orientada por Eliseu Visconti, Zeferino da Costa e Modesto Brocos. Após concluir este curso, viaja para a Europa em 1911, permanecendo em Paris até 1915, aperfeiçoando-se com os mestres Gervais, Gultin e Desirée na Academia Julien.  Regressando ao Brasil, fixou residência em Recife, passando então a exercer o magistério. No dia 15 de Julho de 1932, é empossada na Escola de Belas Artes de Pernambuco como professora catedrática com tese sobre Desenho Figurado, assim como está incluída entre os fundadores da referida Escola. Foi a primeira orientadora artística de Vicente do Rego Monteiro, seu irmão. Ensinou também pintura e desenho na Escola Normal de Pernambuco. Rompeu com o academismo quando já residia em Recife, ao executar a obra “A Feiticeira”.  Participando várias vezes do Salão Nacional de Belas Artes, foi premiada com Menção Honrosa (1911), Medalha de Bronze (1912) e Medalha de Prata (1916).

                O Museu Nacional de Belas Artes guarda as telas Flora e Leitura, de sua autoria. Suas obras fazem parte de diversas coleções particulares e também se encontra na Pinacoteca do Estado.

                José Cláudio fez-lhe a seguinte referência: “Fédora do Rego Monteiro e Mário Nunes, paisagistas de boas qualidades, fatura larga e colorido vibrante”.

                Carlos Rubens escreveu: “Fédora do Rego Monteiro Fernandes, artista consagrada do ‘Chapeau Rouge’, também três vezes laureada no Salão; em 1911, 1912 e 1916. Fez um eficiente aprendizado na Europa, cujos centros de arte ela percorreu; no Rio conquistou largas admirações e páginas consagrativas. No Salão de 1915, ao qual se apresentou após uma exposição admiradíssima, dela destacamos SERENITÉ (Bordes de La Seine) e Soleil D’Automnel e no ano seguinte no mesmo Salão, apresentou ‘Lê Chapeau’, ‘Veille’, ‘Tricoteuse’, ‘A Prece’ e ‘Autoretrato’. Quando expôs na Associação dos Empregados do Comércio, no Recife, onde fixou residência, mereceu encônomios, dela se inscrevendo: ‘Dentre estas (eram trinta as telas expostas) se sobressaem: ‘La Sorcière’, ‘Danseuse em Rouge’, trabalhos de admirável concepção artística e que dispensam elogios, pois já foram consagrados por eminentes mestres franceses quando figuraram respectivamente no Salon de Versailles e no Salon des Artistes Indépendents’. …As paisagens de Fédora são alegres, sorridentes e a combinação das tintas para efeito de luz é feita com uma felicidade tal que o observador se sente encantado com a magia que se lhe depara”.

ACERVO: MNBA – MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES (TELAS “FLORA” E “LEITURA”), RIO DE JANEIRO (RJ); MEPE- MUSEU DO ESTADO DE PERNAMBUCO e MAMAM- MUSEU DE ARTE MODERNA ALOÍSIO MAGALHÃES, RECIFE (PE).

Delano

FRANKLIN DELANO DE FRANÇA E SILVA

Assina: DELANO 4Buique, PE, 29/04/1945.

DESENHISTA, PINTOR E GRAVADOR.

                Recebeu orientação artística de Abelardo da Hora, Wellington Virgolino e José Cláudio da Silva, no Recife, a partir de 1961, quando inicia a sua participação em exposições, Salões e Bienais, passando a integrar o “Atelier + 10”, junto com Vicente do Rego Monteiro, Montez Magno, Wellington Virgolino, Anchises Azevedo, Maria Carmen, Liedo Maranhão, João Câmara, entre outros. Num período de sua vida, foi ilustrador do Jornal da Tarde e da Folha de São Paulo, além de ilustrar revistas e capas de livros. Em 1972, trabalhou no projeto Saci do INPE, São José dos Campos/SP.

Ultrapassada a fase dos seus desenhos feitos a bico-de-pena, que apresentava sempre um caráter onírico e intimamente relacionado com o surrealismo, transporta-se para a pintura a óleo onde, a partir da mancha, estrutura um conceito atualizado e coerente com a condição humana.  Tomando a figura como centro do seu testemunho, Delano domina o seu instrumental cromático, exercitando o gesto a partir de pinceladas largas e emotivas.

CRÍTICAS

                Marcus de Lontra Costa, ilustrou o convite “Delano – Ateliê Pernambuco” com a seguinte poesia: “Quem te vê, assim, a beira mar, tão linda? / Quem te quer assim, banhada de sol tão bela? / Quem acompanha teus passos, quem vela teu sono, / Desperte as tuas manhãs, prepara as tuas tardes, / Acaricia tuas noites, penetra a tua aurora? / Quem tece a tua mortalha, / Quem cobre teu corpo de pétalas? / Quem conhece teus caminhos, teus suores, teus espinhos, / Quem te beija, quem te espreita, / Cidade menina, Olinda, tens dono, Delano”.

Brennand

FRANCISCO DE PAULA COIMBRA DE ALMEIDA BRENNAND

Assina: FB ou F.BRENNAND 4Recife, PE, 11/06/1927.

PINTOR, DESENHISTA, ESCULTOR E CERAMISTA.

                Brennand interessou-se desde cedo pela pintura tendo como primeiro mestre Álvaro Amorim e, no atelier deste, manteve conhecimento e amizade com Balthazar da Câmara, Mário Nunes e Murillo La Greca. Entre os anos de 1945/47, passou a estudar com La Greca, recebendo do mestre as primeiras explicações sobre a pintura clássica. Na qualidade de legítimo representante da escola pernambucana de pintura, “revisa a estilização primitiva e arcaica, imprime a pureza da cor, filtra uma natureza telúrica e sensual em cada imagem que formula.” Considera-se um artista moderno, “um homem do seu tempo que não despreza as instituições, mas, que está a regular distância dos intuitivos sem crítica.” O simples prazer de pintar, leva-o a caminhos do mitológico e do profético.

                Brennand distinguiu-se desde cedo nos Salões do Museu do Estado de Pernambuco, obtendo no ano de 1947 o primeiro Prêmio. Interrogado sobre a conquista desses prêmios, respondeu: “Interrogar uma pessoa sobre o que prefere é despertar nela, uma dúzia de demônios coisas que nem sempre são fáceis de abordar, pois são demais íntimas e cativantes: as nossas manifestações artísticas, suas origens e maneiras de caminharmos através delas. Impossível separar a arte do nosso próprio drama… Que a arte volte ao seu primitivo lugar, que não sejam suprimidos a emoção e o instinto… essa viagem que vai da ciência a consciência e que quer dizer o repúdio total de tudo que não estava em você mesmo”. Em 1948, Cícero Dias realiza exposição no Recife, ocasião em que passa a se interessar pelas obras de Brennand, aconselhando ao seu pai manda-lo para estudos na Europa. Em 1950, Brennand foi novamente premiado pelo IX Salão de Pintura de Pernambuco, obtendo o prêmio de segundo lugar.

                Em 1949, viaja para a Europa e em Paris estuda pintura com Fernand Leger e André Lothe. Presenciando uma exposição de cerâmica de Picasso, interessou-se por essa técnica e as experiências feitas por Miró, Léger e Matisse. Na Umbria, Itália, segue um curso de cerâmica, na antiga região etrusca. Brennand participou de inúmeras exposições individuais e coletivas, Bienais e Salões, no Brasil e no exterior.

Em 1958, recebe do empresário Miguel Vita, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, a encomenda de um mural cerâmico de 49m2, para ser doado ao novo Aeroporto Internacional dos Guararapes, representando a primeira grande obra cerâmica do artista instalada em local público. Em 1963 é distinguido com o primeiro prêmio no concurso para mural, promovido pelo Banco do Brasil, no Recife e, nesse mesmo ano, é convidado pelo governador Miguel Arraes a assumir a chefia da Casa Civil do Palácio do Campo das Princesas. Essa passagem durou um curto período, devido ao golpe de estado que ocorreu em março de 1964. Entretanto, suas relações ampliaram-se, envolvendo o meio cultural e político e, pessoas do meio social ligadas às mais diversas atividades, desde organizadores de eventos oficiais até empresários que buscavam no governo apoios ou patrocínios públicos.

                Sua Oficina de Cerâmica na Várzea, a que se dedica em tempo integral (Pintura, Cerâmica e Escultura) é muito propriamente chamada de Catedral Mundial da Cerâmica, por Pietro Maria Bardi e, Castelo das Artes, por Armando Rocha. “Situada no centro de uma densa floresta, observa-se nos seus longos corredores povoados por sinistros seres de formas estranhamente excêntricas, com certos escorridos que lembra substâncias bioquímicas, que proporcionam aos seus argutos visitantes um mergulho num subconsciente estado de espírito angustiante, com a sensação de que existe ali o mistério da realidade. Seres estes que, despertam no crepúsculo, comunicam-se nos segredos da noite e dormem no limiar da aurora; que nascem aos olhos do irreal, fazendo-se penetrar no que para a humanidade seria um sonho universal por ser a falsa realidade coberta por sentimentos ambíguos proporcionando a sensação do que sentiria no inferno de Dante. Na entrada principal de um salão com uma tênue iluminação, existe uma inscrição (IMOTUS NEC INNERS) imóvel, mas não inerte o que justifica vida nos seres que ali habitam”.

                Oficina, termo que Brennand faz questão de chamar assim por ter origem na palavra latina Oficio (Officiu), que quer dizer Trabalho. Portanto, local de trabalho, evitando inclusive o francesismo Atelier. Ao mesmo tempo, há uma idéia de comunidade, de se poder formar o artesão – entre outras coisas isto também é uma escola de cerâmica, onde filhos de operários começam no aprendizado de modelagem; e é também a sua maneira, um centro experimental. Brennand também considera a idéia da Oficina como um templo, um centro cultural histórico e atemporal.

                Poucos sabem quando visitam o santuário de arte construído por Francisco Brennand, na sua Oficina de Cerâmica, que o ponto de compreensão inicial dos seus enigmas artísticos reside nas numerosas esculturas que representa o Ovo da criação. No pátio da sua imensa galeria, perto do pequeno lago, há uma dessas peças sob um pêndulo. Brennand vê no Ovo gigante a natureza germinadora do cosmos e da vida, a representação da divindade suprema. E o Ovo, em numerosos estágios da humanidade, tem estupenda diversidade de mitos cosmogônicos. O Ovo cósmico, para Brennand, foi a sua fonte inicial de inspiração. Esse Ovo se concentra e se multiplica na catedral mística, de inconfundível e singular beleza estética e inventiva, concebida por Francisco Brennand.

                Em 1977, o cineasta Fernando Monteiro dirigiu um filme em curta metragem com o título “Brennand: Sumário da Oficina pelo Artista”. O segundo trabalho cinematográfico sobre a Oficina Cerâmica Francisco Brennand, foi dirigido por Jayme Monjardim, em 1980. Em seguida, Jeneton Moraes Neto e Guel Arraes produzem o filme “Um Sonho Bárbaro / Francisco Brennand”. Em 1993, o Conselho Superior de Cultura do país apresenta como indicado ao Prêmio Interamericano de Cultura Gabriela Mistral o artista original e múltiplo Francisco Brennand, reforçando ainda mais a sua internacionalidade. Em dezembro desse mesmo ano, o Secretário Geral da Organização dos Estados Americanos, Embaixador João Baena Soares, informou à imprensa que o júri reunido em Washington, acabara de conceder o Prêmio Gabriela Mistral aos pintores Francisco Brennand, do Brasil, e Eduardo Kingman, do Equador. A entrega da premiação ocorreu em 1994, na sede da O.E.A. Entre as inúmeras homenagens recebidas, no dia 18 de agosto de 1994, a Câmara Municipal do Recife através dos vereadores Fred Oliveira e Celso Miranda, outorga-lhe a Medalha do Mérito José Mariano. Em dezembro de 1996, o Presidente da República lhe concedeu a Ordem do Mérito Cultural na Classe de Comendador. No mesmo ano teve seu nome incluído no The Dictionary of Art, publicado na Inglaterra.

                Ariano Suassuna, escreveu: “O mundo de Brennand não é, nem devia ser popular; mas revela uma identificação natural entre o sangue do artista e a linhagem cultural brasileira, formada pela confluência e pela fusão da raiz barroca e da raiz popular. Foi, aliás, do floral Brennandiano, de seus cantos e guerreiros entremeados por folhagens e frutos, de seus animais brasileiros recriados no deserto linear, tosco e vigoroso, de sua pintura achatada e de cores puras, de sua coloração arbitrária e não realista das figuras no espaço, de seu traço propositadamente grosseiro, popular e brasileiro, da pintura épica de seus murais de cerâmica, que surgiu muita coisa que anda hoje por ai, imitada ou descivilizada, mas ainda assim dando um testemunho de força e da vitalidade da origem”.

                Frederico Morais fez-lhe a seguinte crítica: “A pintura de Francisco Brennand tem cheiro e cor da terra… A sua sensibilidade e a sua percepção são conduzidos pelos ritmos da natureza, o vento, a chuva, o mar e a terra; assim como o tempo é sentido nas passagens bruscas do dia e da noite, segundo o ritmo das estações, ou com ajuda do canto do pássaro, da cor das frutas ou do próprio corpo quando faminto e cansado… O vigor e a macheza de sua pintura, a luminosidade intensa de seus quadros, são um hino à um viver mais sadio, mais natural, mais concreto. A morte quando aparece num dos seus quadros, no qual se vêem influência da literatura de cordel, tem uma conotação fatalista. Tem um sentido épico, reflete a grandeza e a dimensão humana, é uma morte-viva.”

 

D

Assina: FB ou F.BRENNAND 4Recife, PE, 11/06/1927.

PINTOR, DESENHISTA, ESCULTOR E CERAMISTA.

                Brennand interessou-se desde cedo pela pintura tendo como primeiro mestre Álvaro Amorim e, no atelier deste, manteve conhecimento e amizade com Balthazar da Câmara, Mário Nunes e Murillo La Greca. Entre os anos de 1945/47, passou a estudar com La Greca, recebendo do mestre as primeiras explicações sobre a pintura clássica. Na qualidade de legítimo representante da escola pernambucana de pintura, “revisa a estilização primitiva e arcaica, imprime a pureza da cor, filtra uma natureza telúrica e sensual em cada imagem que formula.” Considera-se um artista moderno, “um homem do seu tempo que não despreza as instituições, mas, que está a regular distância dos intuitivos sem crítica.” O simples prazer de pintar, leva-o a caminhos do mitológico e do profético.

                Brennand distinguiu-se desde cedo nos Salões do Museu do Estado de Pernambuco, obtendo no ano de 1947 o primeiro Prêmio. Interrogado sobre a conquista desses prêmios, respondeu: “Interrogar uma pessoa sobre o que prefere é despertar nela, uma dúzia de demônios coisas que nem sempre são fáceis de abordar, pois são demais íntimas e cativantes: as nossas manifestações artísticas, suas origens e maneiras de caminharmos através delas. Impossível separar a arte do nosso próprio drama… Que a arte volte ao seu primitivo lugar, que não sejam suprimidos a emoção e o instinto… essa viagem que vai da ciência a consciência e que quer dizer o repúdio total de tudo que não estava em você mesmo”. Em 1948, Cícero Dias realiza exposição no Recife, ocasião em que passa a se interessar pelas obras de Brennand, aconselhando ao seu pai manda-lo para estudos na Europa. Em 1950, Brennand foi novamente premiado pelo IX Salão de Pintura de Pernambuco, obtendo o prêmio de segundo lugar.

                Em 1949, viaja para a Europa e em Paris estuda pintura com Fernand Leger e André Lothe. Presenciando uma exposição de cerâmica de Picasso, interessou-se por essa técnica e as experiências feitas por Miró, Léger e Matisse. Na Umbria, Itália, segue um curso de cerâmica, na antiga região etrusca. Brennand participou de inúmeras exposições individuais e coletivas, Bienais e Salões, no Brasil e no exterior.

Em 1958, recebe do empresário Miguel Vita, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, a encomenda de um mural cerâmico de 49m2, para ser doado ao novo Aeroporto Internacional dos Guararapes, representando a primeira grande obra cerâmica do artista instalada em local público. Em 1963 é distinguido com o primeiro prêmio no concurso para mural, promovido pelo Banco do Brasil, no Recife e, nesse mesmo ano, é convidado pelo governador Miguel Arraes a assumir a chefia da Casa Civil do Palácio do Campo das Princesas. Essa passagem durou um curto período, devido ao golpe de estado que ocorreu em março de 1964. Entretanto, suas relações ampliaram-se, envolvendo o meio cultural e político e, pessoas do meio social ligadas às mais diversas atividades, desde organizadores de eventos oficiais até empresários que buscavam no governo apoios ou patrocínios públicos.

                Sua Oficina de Cerâmica na Várzea, a que se dedica em tempo integral (Pintura, Cerâmica e Escultura) é muito propriamente chamada de Catedral Mundial da Cerâmica, por Pietro Maria Bardi e, Castelo das Artes, por Armando Rocha. “Situada no centro de uma densa floresta, observa-se nos seus longos corredores povoados por sinistros seres de formas estranhamente excêntricas, com certos escorridos que lembra substâncias bioquímicas, que proporcionam aos seus argutos visitantes um mergulho num subconsciente estado de espírito angustiante, com a sensação de que existe ali o mistério da realidade. Seres estes que, despertam no crepúsculo, comunicam-se nos segredos da noite e dormem no limiar da aurora; que nascem aos olhos do irreal, fazendo-se penetrar no que para a humanidade seria um sonho universal por ser a falsa realidade coberta por sentimentos ambíguos proporcionando a sensação do que sentiria no inferno de Dante. Na entrada principal de um salão com uma tênue iluminação, existe uma inscrição (IMOTUS NEC INNERS) imóvel, mas não inerte o que justifica vida nos seres que ali habitam”.

                Oficina, termo que Brennand faz questão de chamar assim por ter origem na palavra latina Oficio (Officiu), que quer dizer Trabalho. Portanto, local de trabalho, evitando inclusive o francesismo Atelier. Ao mesmo tempo, há uma idéia de comunidade, de se poder formar o artesão – entre outras coisas isto também é uma escola de cerâmica, onde filhos de operários começam no aprendizado de modelagem; e é também a sua maneira, um centro experimental. Brennand também considera a idéia da Oficina como um templo, um centro cultural histórico e atemporal.

                Poucos sabem quando visitam o santuário de arte construído por Francisco Brennand, na sua Oficina de Cerâmica, que o ponto de compreensão inicial dos seus enigmas artísticos reside nas numerosas esculturas que representa o Ovo da criação. No pátio da sua imensa galeria, perto do pequeno lago, há uma dessas peças sob um pêndulo. Brennand vê no Ovo gigante a natureza germinadora do cosmos e da vida, a representação da divindade suprema. E o Ovo, em numerosos estágios da humanidade, tem estupenda diversidade de mitos cosmogônicos. O Ovo cósmico, para Brennand, foi a sua fonte inicial de inspiração. Esse Ovo se concentra e se multiplica na catedral mística, de inconfundível e singular beleza estética e inventiva, concebida por Francisco Brennand.

                Em 1977, o cineasta Fernando Monteiro dirigiu um filme em curta metragem com o título “Brennand: Sumário da Oficina pelo Artista”. O segundo trabalho cinematográfico sobre a Oficina Cerâmica Francisco Brennand, foi dirigido por Jayme Monjardim, em 1980. Em seguida, Jeneton Moraes Neto e Guel Arraes produzem o filme “Um Sonho Bárbaro / Francisco Brennand”. Em 1993, o Conselho Superior de Cultura do país apresenta como indicado ao Prêmio Interamericano de Cultura Gabriela Mistral o artista original e múltiplo Francisco Brennand, reforçando ainda mais a sua internacionalidade. Em dezembro desse mesmo ano, o Secretário Geral da Organização dos Estados Americanos, Embaixador João Baena Soares, informou à imprensa que o júri reunido em Washington, acabara de conceder o Prêmio Gabriela Mistral aos pintores Francisco Brennand, do Brasil, e Eduardo Kingman, do Equador. A entrega da premiação ocorreu em 1994, na sede da O.E.A. Entre as inúmeras homenagens recebidas, no dia 18 de agosto de 1994, a Câmara Municipal do Recife através dos vereadores Fred Oliveira e Celso Miranda, outorga-lhe a Medalha do Mérito José Mariano. Em dezembro de 1996, o Presidente da República lhe concedeu a Ordem do Mérito Cultural na Classe de Comendador. No mesmo ano teve seu nome incluído no The Dictionary of Art, publicado na Inglaterra.

                Ariano Suassuna, escreveu: “O mundo de Brennand não é, nem devia ser popular; mas revela uma identificação natural entre o sangue do artista e a linhagem cultural brasileira, formada pela confluência e pela fusão da raiz barroca e da raiz popular. Foi, aliás, do floral Brennandiano, de seus cantos e guerreiros entremeados por folhagens e frutos, de seus animais brasileiros recriados no deserto linear, tosco e vigoroso, de sua pintura achatada e de cores puras, de sua coloração arbitrária e não realista das figuras no espaço, de seu traço propositadamente grosseiro, popular e brasileiro, da pintura épica de seus murais de cerâmica, que surgiu muita coisa que anda hoje por ai, imitada ou descivilizada, mas ainda assim dando um testemunho de força e da vitalidade da origem”.

                Frederico Morais fez-lhe a seguinte crítica: “A pintura de Francisco Brennand tem cheiro e cor da terra… A sua sensibilidade e a sua percepção são conduzidos pelos ritmos da natureza, o vento, a chuva, o mar e a terra; assim como o tempo é sentido nas passagens bruscas do dia e da noite, segundo o ritmo das estações, ou com ajuda do canto do pássaro, da cor das frutas ou do próprio corpo quando faminto e cansado… O vigor e a macheza de sua pintura, a luminosidade intensa de seus quadros, são um hino à um viver mais sadio, mais natural, mais concreto. A morte quando aparece num dos seus quadros, no qual se vêem influência da literatura de cordel, tem uma conotação fatalista. Tem um sentido épico, reflete a grandeza e a dimensão humana, é uma morte-viva.”

 

Ana Silvestre

ANA MARIA ARAUJO SILVESTRE

Assina: Ana Silvestre 4 Arcoverde, PE, 11/02/1942.

PINTORA

            Natural de Arcoverde, Ana veio para Recife ainda menina, sempre com tendência para as artes plásticas.   Autodidata, há mais de dez anos aplica a sua criatividade em desenhos e pinturas.

            O mistério da vida e da terra onde símbolos se completam e se confundem numa paisagem. Uma mensagem onde se observa a beleza da natureza, mas, principalmente, o resultado do sentir da artista, que expressa de forma orgânica e transcendental os seus modos de pensar e de saber, os seus valores culturais – a sua arte. Ana Silvestre como ninguém, sabe captar a flora, a fauna, o ar, a água, o céu e a luz, através de sua criatividade, e, é assim que ela revela o seu momento mágico e também se encontra consigo mesmo e com todos nós.

            Psicóloga da linha psicanalítica, a partir de 1978 dedicou-se também a arte plástica e como autodidata utiliza a técnica do desenho e da pintura. Suas obras atraem quem as vê, resultado da habilidade especial com que pincela as superfícies de seus quadros e o cromatismo equilibrado que emprega. Pintando durante todo esse tempo para o seu próprio mundo, Ana resistiu por mais de uma década às mais diversas propostas para aquisição dos seus trabalhos, conseguindo dessa forma acumular uma interessantíssima coleção, através de uma série de bico-de-pena sobre papel, acrílica sobre tela e técnica mista, com uma temática prioritariamente voltada para o floral, além de composições surrealistas. Hoje, já ocupa um lugar de destaque no metier das artes.

            Sua primeira mostra individual, reunindo cerca de 50 cinqüenta trabalhos selecionados do seu acervo e preconizados pelos críticos que já os viram, foram expostos na Rodrigues Galeria de Artes no dia 22 de Setembro de 1993, com bastante sucesso.

            Participa em 1994, de um curso ministrado pelo artista plástico Flávio Gadêlha, na Escolinha de Arte do Recife.

            Francisco Bandeira de Melo, em 1993, ilustrou o seu convite com a seguinte crítica: “Observa-se instantaneamente, nos quadros de Ana Silvestre, uma luta obsessiva dos elementos da natureza, transfigurada pelos estados brutos da alma. Trata-se, a meu ver, ainda, de uma artista espontânea, de uma espécie de naive atormentada, que fez não propriamente do desenho, mas das tintas a sua forma (ou força) de expressão. Se tivéssemos, todavia, de aproximá-la de alguém nos quadros da pintura, poderíamos situá-la nas vizinhanças do expressionismo – seja de um Van Gogh com suas flores e cores enlouquecidas, seja de um Munch com suas manchas de vida sombria. Ambos, no entanto, talvez matizados pela singeleza discreta e delicada de (mero exemplo) uma Marie Lurencin. A de Ana Silvestre, enfim, é uma pintura que busca o seu próprio caminho e, nele, o chamado domínio do metier, que nada mais é do que o rigor obstinado – mas que, nela, desde já transborda, jorra e até fulgura com muita força vital”.

            Amélia Medeiros de Oliveira e Silva, Psicanalista, escreveu: “O título da exposição de Ana‚ um significante privilegiado que se investe de particular importância, sobretudo porque um patronímico aí perpassa”.

            “Um nome que se assina – SILVESTRE – nas linhas, no movimento, nas cores, na fragrância, restos de luz e sombra dessa natureza que Ana na polivalência do seu pincel sutilmente transforma em veredas: dom, possibilidade e desafio à dialética do olhar”.

            “Efeito de seu próprio ato criador, o artista engendra-se a si mesmo no que há de singular único e irrepetível em que seu trabalho recebe nome. Que é um nome? /  Nome não dá : nome recebe”.  (Guimarães Rosa – Grande Sertão Veredas)

            Jomard Muniz de Britto registrou em 27 de Agosto de 1993:Impunemente pressinto que Clarice Lispector desejaria fruir essas outras flores que não cabem nos catálogos da crítica nem da botânica. Pressentir é mais do que imaginar ou conceber. Vale como sinal de adivinhação saboreada construtivamente. Por isso, de Clarice, assumo apropriações, também impunes, jamais isentas: ‘talvez o ar despojado, a delicadeza de coisa vivida e depois revivida, e não certo arrojo dos que não sabem. ’ E se fantasiam de malabaristas da artevida”.

            “Por Ana, esse delicado despojamento das flores‚ tão visceral, orgânico, e singularmente, tão fonte significante das mais silvestres e plurais sublimações. De algo, plena carência, vivida e revivida entre o real, o imaginário e o cultural sem barras. Do visível, da utopia concreta e da clandestina felicidade que nos redesenha e reaproxima. Pelo avesso dos rótulos e estilos consagrados. A medula da sagração do primaveril como gesto. A desmedida do suavemente finito por destino. A pulsante memória da infância perturbadora”.

            “Outra vez, relendo no entrelugar de Clarice: tanto em pintura como em música e literatura, tantas vezes o que chamam de figurativo me parece o abstrato de uma realidade mais delicada e dilacerante, mais inefável e perigosa. Portanto, essas outras flores, brasilíricas, de tão despojadas, delicadas e silvestres. Selvagens na singeleza do despojamento de Ana. Sutis por necessidade vital, afetiva e espetacular. Situação-limite da abstração ao concreto, do fugaz ao intemporal, da carnalidade do mundo… mais terna sublimidade das paixões criativas. São flores de flores de outros pássaros narcisamente silvestres, alados, abissais e vertiginosos. Pelos vestígios da caosmose… produção de novas subjetividades”.

 

iFalta atualizar.

Abelardo da Hora

ABELARDO GERMANO DA HORA n Assina: ABELARDO DA HORA

São Lourenço da Mata, PE, 31/07/1924.

ESCULTOR, DESENHISTA, GRAVADOR E CERAMISTA.

                Nascido na Usina Tiuma em São Lourenço da Mata, município de Pernambuco, transferiu-se para o Recife onde fez curso de Artes Decorativas no Ginásio Industrial, hoje Colégio Técnico Professor Agamenon Magalhães, compreendendo as disciplinas de desenho, pintura, desenho industrial e arquitetônico, modelagem, escultura e entalhadura, tendo por professores o pintor Álvaro Amorim, o escultor Edson de Figueiredo, o entalhador Mestre João Vicente e outros e, na Escola de Belas Artes, tendo por professores o escultor Casimiro Correia, Fédora Monteiro, Murillo La Greca e Antonio Balthar. É bacharel em Direito formado na Faculdade de Direito de Olinda.

                De janeiro de 1942 a dezembro de 1945, realiza vários trabalhos em cerâmica para o industrial Ricardo Brennand tais como: Salvas Cerâmicas com motivos regionais em terracota; “Bangüê”, “Casa de Farinha”, “Feira Livre”, “Danças Populares” e uma série de Jarros cilíndricos de grandes dimensões. Foi mestre de Francisco Brennand durante um período de quatro anos em que morou no Solar dos Brennand. Em dezembro de 1945, vai para o Rio de Janeiro onde elabora uma escultura de grandes dimensões na casa do saudoso Abelardo Rodrigues, na Ladeira do Ascurras. Pretendia com essa peça concorrer ao Salão Nacional de Belas Artes no ano seguinte. Infelizmente, não houve salão neste ano, deixando-o desapontado. Volta ao Recife em outubro de 1946, com o propósito de fundar uma sociedade, não só para defesa dos interesses dos artistas, como para defesa da própria arte. Em abril de 1948, faz sua primeira exposição de esculturas na Associação dos Empregados do Comércio, na Rua da Imperatriz, no Recife, “com grande repercussão pela sua forma e conteúdo e por ser a primeira exposição de esculturas realizada nesta capital”. Neste mesmo ano, funda a Sociedade de Arte Moderna do Recife, juntamente com Hélio Feijó (Presidente), Ladjane Bandeira, Reynaldo Fonseca, Augusto Reinaldo, Darel Valença, Delson Lima e outros artistas. Assume a presidência da SAMR em 1949, lançando as bases do Atelier Coletivo, que se inicia com cursos de Desenho no Liceu de Artes e Ofícios em 1950, tendo por alunos Gilvan Samico, Wilton de Souza, Wellington Virgolino, Ionaldo, Ivan Carneiro, Mário Lauritzen e José Cláudio – que foram junto com Abelardo – os fundadores. Em meados de 1952, perdendo a sala que ocupava no Liceu, com a colaboração dos alunos, o Atelier Coletivo se instala na rua da Soledade, nº. 57 e posteriormente na rua Velha, nº. 231, e nessa época entraram como alunos Celina Lima Verde, Rosa Pessoa, Bernardo Dimenstein, os irmãos Genilson e Cremilson Soares, Guita Charifker, Leda Bancovski, Corbiniano Lins, Antonio Heráclito Campelo Neto e Anchises. Em 1954, o Ateliê Coletivo realizou o primeiro Salão. A esse respeito, Abelardo afirma: “Todo trabalho que desenvolvíamos tinha no que diz respeito a nossa índole antiacadêmica, muita afinidade com Paris, mas, pela semelhança dos objetivos que já vínhamos palmilhando dentro do Atelier, era com o México nossa maior afinidade”. Neste mesmo ano, participa junto com outros artistas do Atelier Coletivo de uma exposição a convite do Clube da Gravura de Porto Alegre, que percorre vários países: Europa, China, União Soviética, Israel, Argentina e Mongólia. Eleito delegado, em Pernambuco, da Seção Brasileira da Associação Internacional de Artes Plásticas, filiada à UNESCO, desenvolvendo esforços no sentido da integração das artes plásticas com o teatro, a música e atividades artesanais. Amplia o movimento artístico-cultural congregando no Atelier Coletivo o Coral Bach do Recife dirigido por Geraldo Menuchi e, lança as bases de um grande movimento abrangendo: Artes Plásticas, Artesanato, Música, Canto, Dança e Teatro no Governo Municipal de Pelópidas da Silveira, como proposta para a utilização do Sítio da Trindade. Em 1956, o Atelier Coletivo se transfere para a rua da Matriz, 117. Foi nessa época que ingressaram como alunos Adão Pinheiro, Nelbe Souza, entre outros. Segundo Abelardo “todas essas atividades teve como preocupação básica, a elevação do nível cultural da população, da educação do povo para a vida e para o trabalho e, para, a partir dessa mobilização e intercâmbio, consolidar nas manifestações culturais, um caráter brasileiro”. A importância desse movimento foi notada pela sensibilidade da arquiteta Lina Bo Bardi, em exposição organizada no Museu de Arte Popular da Bahia – Solar do Unhão – em Salvador, exposição, que teve por título “Civilização Nordeste”, declarando que: “na representação de Pernambuco havia certa unidade poética que a destacava das demais”. O projeto do Sítio da Trindade se concretiza em 29 de julho de 1958, na administração do Prefeito Miguel Arraes com o nome Movimento de Cultura Popular com um Conselho Diretor formado por Abelardo da Hora, Luiz Mendonça, Paulo Freire, Germano Coelho, Anita Paes Barreto e Geraldo Menuchi. Posteriormente, foi acrescentado um Setor de alfabetização. Ainda por iniciativa de Abelardo, houve a renovação dos Parques Infantis com esculturas que funcionariam como brinquedos, criando também Praças de Cultura. Em 1962, teve um álbum de desenhos com o título Meninos do Recife, lançado por essa entidade. O Movimento de Cultura Popular encerra suas atividades em 1964, transferindo-se para São Paulo em 1966, tornando-se exclusivo da Galeria Mirante das Artes. Em 1995, recebe no Palácio do Itamarati, em Brasília, a comenda da Ordem do Rio Branco.

                Os Estados Unidos, o Canadá e a Europa foram alvos de suas viagens de estudos. Sensível à obra de Portinari, traduziu a realidade nordestina recorrendo à energia do testemunho direto. Como escultor, cria obras impregnadas do ambiente regional. A Enciclopédia Barsa inclui Abelardo da Hora entre seis destacados escultores brasileiros.

                Mário Barata comentou sobre o álbum Meninos do Recife: “Sensível aos valores plásticos e visuais do modernismo, Abelardo exerce sua emocionalidade no âmbito dos temas humanos da desgraça profunda de nossa gente. No artista ela supera o cotidiano e eterniza-se no traço e no claro-escuro de um desenho novo, não retórico na sua essencialidade figurativa”.

                Pietro Maria Bardi, escreveu: “(…) Como artista, mestre, ativo promotor da Câmara de Arte, Abelardo conquistou os mais altos reconhecimentos da crítica, nem só brasileira, mas também estrangeira, afirmando uma personalidade de exceção. Sua arte, em grande parte dedicada à vida popular em Pernambuco, se caracterizou por um modo próprio de interpretação singular no representar uma humanidade de vivência laboriosa, de grande sentimento e de volitivo espírito de iniciativa. (…)”.

                Francisco Brennand, em junho de 1988, escreveu: (…) “Nos idos de 1942, estando ele à frente do Diretório Acadêmico de Belas Artes, comandava uma turma de alunos que se deslocava para as matas da Várzea com a finalidade de pintar e desenhar paisagens, quando Ricardo Brennand, meu pai, surpreendeu-o, à beira do grande açude do velho Engenho São João, em pleno trabalho. Nesse exato momento, Abelardo desenhava a cabeça de uma de suas colegas postada poucos metros adiante. Segundo ele me disse, Ricardo Brennand ficou interessadíssimo no desenho e além da proposta de adquiri-lo, logo descobrindo a sua real profissão de escultor, de imediato, convidou-o a fazer um estágio na Cerâmica São João”.

                “Poucas semanas depois, Abelardo da Hora dava início a uma série de trabalhos modelados em argila que teriam uma importância marcante na arte cerâmica brasileira. Importância tanto para ele como para a confirmação das renovadas experiências de esmaltes realizadas pelo meu pai. Diga-se de passagem, que Ricardo Brennand, em todos os momentos de sua longa existência, sempre manteve, no seu sentido mais amplo, um elevado interesse pela matéria cerâmica. Desde o ano de 1933, já começavam a aparecer na Cerâmica da Várzea belíssimos experimentos de vasos, placas, pratos e terrinas, todos portadores de elevadas intenções artísticas. Se bem que essas peças fossem calcadas em modelos orientais ou neoclássicos europeu, os seus esmaltes e pigmentos à base de óxidos eram laboriosamente manipulados pelo próprio Ricardo Brennand”.

                “A contribuição de Abelardo da Hora, a partir de 1942, foi decisiva no sentido de que, pela primeira vez, essa criação caía nas mãos responsáveis de um verdadeiro artista coberto de talento e criatividade. Portanto, só a partir dessa data essa produção de peças deixava de lado, em definitivo, os modelos europeus ou orientais para assumir uma marca inconteste de originalidade” (…).

 

BIBLIOGRAFIA

Barsa, Enciclopédia. Enciclopédia Britânica do Brasil, Rio de Janeiro – São Paulo, 1987, V.VII, p.81

Bruscky, Paulo e Maia Leite, Ronildo, Abelardo de Todas as Horas, Governo do Estado de Pernambuco, 1988.

Cavalcanti, Carlos. Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos. Instituto Nacional do Livro/MEC, Brasília, 1974, p.340.

Cláudio da Silva, José. Memória do Atelier Coletivo. Edição Artespaço -Nordeste Gráfica e Industrial, 1979, Jaboatão, PE,

Delta Larousse, Enciclopédia. Editora Delta S/A., Rio de Janeiro, RJ., 1970, p.3409

Pontual, Roberto. Dicionário as Artes Plásticas no Brasil. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1969, p.266

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