Mario Nunes

MÁRIO LUNA DE CASTRO NUNES

Assina: MÁRIO NUNES 4Recife, PE, 27/10/1889 Recife, PE, 1982.

PINTOR

                Começou a pintar aos nove anos de idade. Nasceu no bairro de Casa Amarela, no Recife, fazendo seus estudos primários com a professora Maria Barbosa e o curso médio no Instituto Ayres Gama, onde fundou um jornal manuscrito intitulado A Paleta, do qual era ilustrador. Na pintura, teve como mestre o Pintor Telles Júnior. Era catedrático com tese sobre paisagem. Hoje, suas obras, são disputadas por colecionadores, principalmente de Pernambuco.

                Lucilo Varejão afirmou: “O que há de notar em Mário Nunes é que a sua obra não se parece com a de nenhum outro pintor aqui vivido. Nem na preferência dos assuntos, nem sequer na obstinação pessoal por certas tintas. A paixão de Telles pela Terra de Siena corresponde em Mário a exaltação pelos Cádmios e Vermelhão da China. (…) Olinda, com as suas igrejas e conventos centenários, seus sobradões do tempo dos Afonsinhos, suas casas de biqueira e seus decrépitos balcões de gosto hispano-árabe, constitui o seu imediato interesse de interpretação”.

                Em 1907, criou com um grupo de amigos o Grêmio Dramático Espinheirense e logo em seguida, iniciou-se na pintura de cenários para várias companhias teatrais, ao lado do pintor Álvaro Amorim. A cenografia das operetas “Amor de Príncipe”, “Mazurca Azul”, “Madrinha dos Cadetes” e “Aves de Arribação”, são alguns trabalhos de sua autoria.   Em 1919, participa do Salão Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro e três anos depois (1922), realiza no Recife sua primeira exposição individual, no Gabinete Português de Leitura. Em 1928, foi laureado com Medalha de Bronze no Salão Nacional de Belas Artes e dois anos depois (1930), com a Medalha de Prata conferida pelo Governo do Estado de Pernambuco com a obra “Igreja de São João – Olinda”, tela que pertence ao acervo do Palácio Campo das Princesas, no Recife. Foi professor da Escola Doméstica de Pernambuco, do Instituto Carneiro Leão do Recife e da Escola Normal Pinto Júnior. Foi contratado de 1930 a 1932 do Ginásio Pernambucano e em 1934, da Escola Normal Oficial de Pernambuco. Em 1932, junto com Álvaro Amorim e Balthazar da Câmara, monta um atelier no segundo andar da rua Joaquim Távora, 105, no bairro da Encruzilhada. Neste mesmo ano, no dia 29 de março reuniram-se neste atelier seus proprietários e Murillo La Greca, Henrique Elliot, Emílio Franzosi, Luiz Matheus, Heinrich Moser, Bibiano Silva e Georges Munier e fazem a abertura do livro de atas, fundando a Escola de Belas Artes de Pernambuco. Escolhem para diretor o escultor Bibiano Silva, para secretário o engenheiro Jayme Oliveira e para tesoureiro o pintor Balthazar da Câmara. Ocupou na referida escola a Cadeira de Paisagem durante 27 anos, até chegar à compulsória. Em 1942, é agraciado com o 2º Prêmio no I Salão de Pintura do Museu do Estado de Pernambuco. Em 1947, com 58 anos, viaja para a Europa junto com Balthazar da Câmara, onde pinta vários quadros. Gostou muito de Lisboa e ficou deslumbrado com Paris, onde visita o atelier de Cícero Dias. Além de freqüentar museus e exposições de pintura, trabalhou bastante, fixando algumas paisagens da capital francesa em suas telas. Até o final de sua vida, a recordação dessa fase de sua existência sempre o emocionou profundamente.

                Mário Nunes faleceu na sua cidade natal aos 93 anos de idade e, segundo a artista plástica Lúcia Uchoa de Oliveira; “o que fez de seus quadros, mágicos e coloridos momentos, foi o domínio que tinha sobre a cor e suas variações infinitas, expressando-se através de riquíssimas harmonias cromáticas”. No convite da sua última exposição retrospectiva, consta a seguinte mensagem; “O talento de Mário Nunes não envelheceu. Ele foi fiel a sua vocação: amou-a com paixão até a morte e fez dela o sentido de sua vida”.

Luciano Pinheiro

LUCIANO PINHEIRO

Assina: LUCIANO PINHEIRO 4Recife, PE, 17/09/1946.

DESENHISTA, GRAVADOR, PINTOR E ARQUITETO.

             Em 1966 fez parte da Oficina 154 (Cooperativa de Artes Plásticas Oficina 154), em Olinda, onde permaneceu até a extinção do grupo.  Em 1973, conclui o curso de Arquitetura, pela Universidade Federal de Pernambuco.  Em 1977, inicia seus contatos com a técnica litográfica por intermédio de João Câmara e, forma com outros artistas o Grupo Guaianases. No ano seguinte, incorpora-se ao grupo de fundadores da OFICINA GUAIANASES DE GRAVURA, onde ocupou a função de diretor-artístico até 1980.  Em 1982, funda a Brigada Portinari, juntamente com Cavani Rosas, Clériston, etc. e nesse mesmo ano, é convidado como expositor no II Simpósio Nacional de Artes Plásticas, Presença das Regiões, onde apresenta trabalho sobre o tema: Brigada Portinari, uma experiência coletiva de Arte e Política.  Em 1983, juntamente com Cavani Rosas, Petrônio Cunha, Antônio José do Amaral e Álvaro Vieira, fundam o Atelier Coletivo Aurora.  Em 1986, viaja para a Europa onde, em Paris, mora com a família por dois anos, participando do “Ateliers des Orteaux”, a convite de alguns amigos, trabalhando junto com vinte artistas de diversas nacionalidades.  Em fins de 1987 retorna ao Brasil e reassume seu atelier em Olinda, fundando em 1989 o Atelier Coletivo de Olinda, junto com Gilvan Samico, Guita Charifker, Eduardo Araújo, José Cláudio, Giuseppe Baccaro, José de Barros e Gil Vicente, fazendo no ano seguinte curso de xilogravura com Gilvan Samico.  Em 1991, é recusado no Salão Nacional de Artes Plásticas de Brasília, pelo Instituto Brasileiro de Arte e Cultura (Rio de Janeiro), que o convida, em 1992, para integrar a “Comissão de Seleção do Projeto Macunaína 1992″.  Nesse mesmo ano, participa do projeto “Fernando de Noronha – 3 Visões“, a convite da Companhia Editora de Pernambuco (CEPE) e a Fundação Vitae de São Paulo concede-lhe uma bolsa. Em 1993, participa da Comissão de Seleção do Projeto Macunaíma, no Instituto Brasileiro de Arte e Cultura IBAC, no Rio de Janeiro. Entre 1997/1999, integra o Colégio Eleitoral do Prêmio Multicultural Estadão, de São Paulo.

Luciano afirma; “ninguém deve esperar de mim inovações ou adesões as novas escolas ou tendências.  Nunca me preocupei com isso.  Já fui chamado de néo-expressionista, abstrato, figurativo e até neofauvista.  Meu trabalho, será como sempre, marcado apenas por fases ou descobertas pessoais”.

             Eduardo Bezerra Cavalcanti, em julho de 1983, escreveu: “Com o fascínio pela imagem pictórica expressiva, Luciano concretiza uma viagem no tempo. Tentativa de entender o destino humano numa dimensão existencial ampla: desde aspectos de sua origem remota, a percepções e sentimentos da realidade presente, e a previsão do futuro, e da morte, enquanto mistérios, incerteza, dualidade da própria vida. Retrospecção e prospecção. Procura da descoberta. Tentativa de discernir o sentido do nosso tempo. Cada situação registrada simbolicamente no quadro é um fragmento arqueológico do nosso tempo”. (…)

             Longo período dedicado ao desenho, depois às aquarelas, em 79 e 80 às primeiras pinturas, enquanto concluía uma série notável de litografias”. (…)

             Com o pintor, a perspectiva de uma temática mais abrangente coincide com o empenho de independência em relação a qualquer estilo institucionalizado da expressão artística”. (…)

             (…) “Encontramos em Luciano, um colorista sui generis.  Vale-se das cores puras ou prepara nuanças e luminosidades, combinações contrastantes, ora chapados lisos, fortes texturas, ora transparências, raspagens, tintas bem diluídas, superfícies ásperas “dando às vezes a impressão de um desgaste natural pelo tempo“.  Explora o gesto expressivo, gráfismos sobrepostos a regiões cromáticas previamente executadas, cria atmosferas de sonho, formas distorcidas, representações arcaizantes da figura humana, sugere ventanias, movimentos giratórios rompendo propositalmente as leis de equilíbrio e gravidade.  No entanto, apesar desta tendência crescente à abstração, Luciano permanece um pintor necessariamente figurativo. Mostra-se sensível a configurar liricamente formas-simbolos na estruturação de suas paisagens: formas embrionárias, seres em redomas, túneis, símbolos do aprisionamento, da viagem interior, da penetração, do in-sight, morros, seios, o primeiro contato com o mundo, a fecundação, paisagem fetal, precipitações, saltos de ou para um mundo além, pirâmides, cruzes, símbolos religiosos ambíguos, conflitantes, exorcismos, o milagre, a eternidade, formas, movimentos, ritmos, idéias, a terra, o ar, água, pedra, vácuo” (…).

             “Outras pinturas sugerem paisagens que podem ser continuadas em qualquer direção: ‘… São escavações mentais (…), tentativa de buscar para a arte o lado mágico e religioso que motivou a criação, desde o homem das cavernas até hoje’.  O ser humano navega no espaço (díptico, 1981) e Homem e conquista (políptico, 1982) deixam clara esta crença antiga, esta faculdade mágica do movimento contínuo do homem no universo.  ‘… O artista segue encontrando situações inesperadas, decifrando mistérios, sondando e brincando com a existência (…)’.  Tempo e espaço podem ser uma extensão infinita, como uma prospecção arqueológica, e o homem caminha também para o vazio, o vácuo, a morte. Seja isto decorrência do esquartejamento – da matéria dissolvendo-se em plena paisagem -, mas sempre mistério, travessia, passagem“.

Jobson Figueiredo

JOBSON FIGUEIREDO ALVES

Assina: JOBSON 4Barreiros, PE, 28/08/1948.

ESCULTOR, PINTOR E GRAVADOR.

                Apesar de haver nascido em Barreiros, passou quase toda a sua infância em Garanhuns onde entre 1963 e 1965, pinta, escrevendo ainda para o jornal O Monitor e dirigindo o programa “A Voz Acadêmica”, na Rádio Difusora do município.

                Em 1966, transfere-se para o Recife montando seu Atelier em Boa Viagem, onde além de se integrar nas artes plásticas, desenvolve trabalhos de Programação Visual, Fotografia e Mobiliário Urbano. Começa a escrever e desenhar para o Jornal do Commercio, passando em 1968 a assinar uma coluna semanal para o referido periódico. Integra a Agenda Poética do Recife – Antologia dos Novíssimos, organizada por Cyl Galindo.

                Em 1969, monta Atelier no bairro de Campo Grande/Recife e leciona desenho e talha no Centro de Arte Infanto-Juvenil, no Recife e ocupa o cargo de Assessor de Imprensa na Associação dos Artistas Plásticos de Pernambuco. 

                Em 1970, leciona talha e escultura no Setor de Praxiterapia do Hospital da Tamarineira e trabalha no mesmo setor do Instituto Jung, ambos em Recife.  Neste mesmo ano, participa do 1º Simpósio de Decoração de Interiores e Psicodinâmica das Cores e dedica-se a trabalhos de Programação Visual, produzindo logotipos, marcas e embalagens.

                Em 1971, desenvolve a execução de esculturas em madeira e realiza projetos de Mobiliários Urbanos para Morêda & Associados.

                Após o período acima assinalado, ou seja, na década de 70, Jobson dedica-se integralmente a um trabalho de pesquisa em materiais como pedra, madeira, metais e resinas, resultando daí a execução de uma série de esculturas adquiridas em seqüência constante pelo mercado de arte, alvo de elogio da crítica especializada.

                Hoje Jobson mantém um Ateliê no bairro Poço da Panela e uma fundição para execução de peças de sua autoria e de terceiros. Obras de grandes artistas como Brennand, Abelardo da Hora, entre outros, foram produzidas na sua fundição.

 

                Alberto Beuttemmuler escreveu em 1982, no catálogo do I Salão de Arte: “(…) A escultura de Jobson Figueiredo vem assumindo, com o passar do tempo, uma força extraordinária. Pesquisador de resinas as mais variadas, Jobson consegue efeitos, inclusive colorísticos, transmitindo não só o conhecimento artesanal, mas uma mensagem sensual que nos obriga a refletir sobre a proposta em vários níveis”.

                Maria do Carmo Arantes, em 14/04/82, publicou no Jornal Estado de Minas: “(…) seccionados em sua tridimensionalidade, surgem passagens e deslocamentos de seios, espáduas, pescoços, cabeças. Jobson vai radiografando o interior do corpo ao mesmo tempo em que joga a sua escultura de encontro ao lado lúdico de todo ser humano; o montar e desmontar peças deste complexo humano torna-se um questionamento instigante”.

Gil Vicente

GIL VICENTE VASCONCELOS DE OLIVEIRA

Assina: GIL VICENTE 4Recife, PE, 20/04/1958.

PINTOR, DESENHISTA E GRAVADOR.

                Aos 12 anos de idade Gil Vicente manifestou um vivo interesse pelo desenho e pela pintura, dedicando-se então às artes plásticas, num trabalho incessante de pesquisa, que vem até hoje. Tomou a arte como profissão, levando a sério e com objetividade tudo o que cria e produz, estando incluso entre os melhores artistas da região Norte-Nordeste. Pela qualidade do seu trabalho, a demanda às suas obras é superior a sua produção, uma vez que Gil não se apressa, esmerando em manter o padrão que já atravessa um longo período.

De 1972 a 1977 estudou as diversas técnicas de desenho, pintura e gravura com a professora Tereza Carmen Diniz e gravura em metal com José de Barros na Escolinha de Arte do Recife. De 1974 a 1977 estudou desenho e pintura de observação com Inaldo Medeiros e Lenira Regueira, recebendo orientação de Isidro Queralt Prat, na Escola de Artes da Universidade Federal de Pernambuco. Em 1975, recebeu do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco o 1ºPrêmio, pelo trabalho apresentado no III Salão dos Novos. Em 1976, conclui e segundo grau escolar e, desde então, dedica-se exclusivamente às artes plásticas. Neste mesmo ano foi agraciado com o 3ºPrêmio de Pintura no XXIX Salão Oficial de Arte, do Museu do Estado de Pernambuco. Em 1977, o Museu do Estado de Pernambuco, outorgou-lhe o 1ºPrêmio de Pintura no XXX Salão Oficial de Arte. Em 1978, recebeu do Museu do Estado de Pernambuco, o Prêmio de Desenho, no XXXI Salão Oficial de Arte e participou da fundação da Oficina Guaianases de Gravura, em Olinda/PE. Em 1981, viaja à Paris, como bolsista do Governo Francês, fazendo estágio com o professor Yankel, na Escola de Belas Artes. No mesmo ano retorna ao Brasil, sendo distinguido com o Prêmio MEC/FUNARTE, pelo Museu do Estado de Pernambuco, no XXXIV Salão de Artes Plásticas, em Recife/ PE. Em 1984, dedicou-se a pintura de paisagens ao ar livre até 1986, junto com outros artistas pernambucanos. Em 1986, foi distinguido com o Prêmio Aquisitivo de Desenho, pela Fundação Romulo Maiorana, no Salão Arte Pará, em Belém/PA. Em 1988, participou da fundação do jornal Edição de Arte, tablóide mensal sobre artes plásticas, publicado e distribuído profissionalmente durante nove meses, em Recife/PE. Em 1989, a convite do Governo Americano, viajou aos Estados Unidos para conhecer Artistas, Museus, Galerias e Escolas de Arte. Passou a manter o Atelier Coletivo de Olinda, junto com José de Barros, Giuseppe Baccaro, Luciano Pinheiro, José Cláudio, Guita Charifker, Eduardo Araújo e Gilvan Samico, onde fez xilogravuras com orientação deste último, permanecendo até 1993. Em 1992, constrói seu atelier/residência.

                Luiz Antônio Marcuschi, em 1980, escreveu: “(…) GIL VICENTE dispensa apresentações e provas de competência. Artista contido, sóbrio e marcante, Gil se perfila e amadurece no prazer de prezar o cotidiano com certa melancolia espontânea, sem fantasmagorias. A “curtição” da pintura predomina sobre o intelecto; não se trata de um arlequim nem de um ideólogo de plantão. Tecnicamente maduro, surpreendente, seu texto é enxuto, despojado. Poucas cores nas telas a óleo, mais nos desenhos; um legítimo antípoda do presepeiro” (…).

                Jacob Klintowitz, em 1990, fez a seguinte crítica: (…) ”Acho que devo chamar a atenção para uma característica rara desta pintura: ela se remete, permanentemente no arquétipo da pintura. É uma pintura de matéria, densa, objetiva, direta, forte.  A sua matéria não pretende, de forma alguma, ser alguma coisa aposta sobre a pintura, não nos remete para a teoria, não fala da terra, do objeto, da terceira dimensão possível da bidimensionalidade. É uma pintura densa, como o sangue e a carne o podem ser.  Não a densidade do social e da conceituação, mas a da vida orgânica. Também ela é uma pintura direta, particular, uma pintura que não se esconde, que enfrenta imediatamente o seu assunto e que vai, de maneira reta e evidente, ao tema de que trata.  Uma pintura densa e direta impregnada de matéria. E é uma pintura objetiva. Ela se transforma imediatamente em sua própria existência, em realidade de si mesma, em um objeto de consideração. Ela tem a sua personalidade, a sua existência real. É desta condição que provém a sua força e ela reside nesta atitude direta, na capacidade de tornar-se objeto de si mesma. Na verdade, esta objetividade não nos remete para alguma coisa fora dela mesma, ela se coloca como suficiente para nos alimentar o espírito e faz com que observemos e retornemos a ela em todos os momentos.  Ela ocupa totalmente o horizonte. E a relação com esta pintura deve ser, em primeiro lugar, na minha opinião, deste tipo: uma resposta clara, direta, objetiva. À estas imagens, nós respondemos com uma atitude deste tipo. Contemplação, emoções e o toque sensorial” (…).

ACERVOS: MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE PERNAMBUCO, RECIFE 4 MUSEU DO ESTADO DE PERNAMBUCO, RECIFE 4 FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO, RECIFE 4 CENTRO CULTURAL CÂNDIDO MENDES, RIO DE JANEIRO.

Fernando Lúcio

FERNANDO LÚCIO DE LIMA BARBOSA

Assina: FERNANDO LÚCIO 4Recife, PE, 05/05/1954.

PINTOR, DESENHISTA E PROFESSOR.

Estudou na Escola de Belas Artes de Pernambuco. Freqüentou os ateliês de Murillo La Greca, Mário Nunes, Pierre Chalita, Queralt Prat, Elezier Xavier, Lenira Regueira, Laerte Baldini e outros artistas marcantes nas artes plásticas de Pernambuco.  Fez cursos de Licenciatura em Educação Artística Plena em Artes Plásticas, Escultura, Museologia, Restauração e Conservação de Obras de Arte, Estética, Música, Crítica de Arte e Pós-Graduação em Artes Plásticas. É professor concursado do Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. Autor e coordenador do Projeto Bibiano Silva, dirigindo o ateliê com o mesmo nome, na Casa da Cultura de Pernambuco (Fundarpe).

Na Europa, estudou as obras dos grandes mestres da pintura nos museus do Louvre, Prado, Sorolla, Vaticano, Victória and Albert Museum e Arte Moderna de Roma. No final do ano de 1996, viaja para Madri/ Espanha para realizar doutorado na Faculdade de Belas Artes da Universidade Complutense, freqüentando ainda o Círculo de Belas Artes na mesma cidade. Foi fundador do Sindicato dos Artistas Plásticos Profissionais de Pernambuco, ocupando a presidência. Tem cadastro no Ministério de Educação e Cultura (MEC), Museu Antônio Parreiras (MAP) e Museu de Arte de São Paulo (MASP). Está citado nos livros Artistas de Pernambuco (José Cláudio), Catálogo Pernambucano de Arte-1987 (Grupo X), Artes Plásticas Brasil nºs. 6 a 9 (Júlio Louzada) e Cadastro Arte Maior de Pernambuco I e II.

                Elezier Xavier, em 1978, afirmou: “A pintura traz sempre um pouco do autor, isto explica a pintura de Fernando Lúcio, com sua vivacidade e juventude ligadas a procura da arte pictórica. Há muito equilíbrio, muita luz na sua paisagem e um colorido que impressiona”. (…)

                Pierre Chalita, em 1978, fez-lhe a seguinte crítica: “Fernando Lúcio, uma juventude impressionada pelo realismo da injustiça social e pelo lirismo da paisagem nordestina. Inteligência aberta à tradição colonial, seus óleos filiam-se às aquarelas de Debret, no gosto pelo detalhe arquitetônico e pelo suave contraste das cores”.

                Isidro Queralt Prat, em 1979, escreveu: “Considero Fernando Lúcio um pintor nato, portanto, de grande potencialidade.  Isto fica revelado na maneira de ver a forma, na sensibilidade para sentir a cor e suas sutís relações, no conceito amplo da composição.  A seriedade com que enfrenta seu ofício, a preocupação pela plasticidade de sua obra, sem interferência extra-pictóricas e sua juventude, conseguirão extrair, ainda mais, grandes resultados desta sua potencialidade natural”.                     

                Lula Cardoso Ayres teceu o seguinte comentário: (…) Depois de certo período mais sadio da Escola de Belas Artes, quando estavam Vicente do Rego Monteiro, Reinaldo Fonseca, modéstia a parte eu também estava nesse meio, então vieram esses rapazes que hoje são grandes pintores. Não que fossem nossos alunos. Nós conversávamos, trocávamos idéias e criou-se uma mentalidade de seriedade na pintura. Os exemplos estão , como João Câmara (que chegou menino na Escola), Ismael Caldas, Fernando Lúcio e tantos outros”.

PRÊMIOS: 1986 – MENÇÃO HONROSA, NA I MOSTRA DE ARTE EM VITRINE DE RECIFE; 1989 – PRÊMIO PINTURA MURAL, NO SALÃO DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE PERNAMBUCO; 1991: MEDALHA DE OURO, NO SALÃO DE ARTE BRASIL, ALBUFEIRA (PORTUGAL).

Eliane Rodrigues

ELIANE DE ALBUQUERQUE RODRIGUES

Assina: ELIANE RODRIGUES 4 Recife, PE, 06/10/1941.

DESENHISTA, PINTORA, GRAVADORA, CENÓGRAFA E TAPECEIRA

 

                Descendente de uma família de artistas ilustres de Pernambuco, entre os quais Fernando Rodrigues, seu pai, (incentivador das artes no Recife), Augusto de A.Rodrigues, seu irmão, (dono de Galeria de Arte), Abelardo Rodrigues, seu tio, (colecionador de antiguidades e paisagista), Augusto Rodrigues, seu tio, (pintor, desenhista, jornalista, poeta e educador), Netinha Rodrigues, sua tia, (pintora e desenhista), entre tantos outros nomes de destaque.

                Seus primeiros estudos artísticos ocorreram na Escolinha de Arte do Recife, onde obteve medalhas de 1º e 2º lugar na Exposição Infantil realizada no Teatro Santa Isabel. Desde a sua infância o desenho ocupa um lugar de destaque na sua produção, mas ela dedica-se também a pintura e gravura. Foram seus mestres, entre outros, Washington França, (Escolinha de Arte do Recife), Burle Marx, Aloísio Magalhães, João Câmara e Janete Costa, (Instituto Joaquim Nabuco), Pierre Chalita e Lenira Regueira, (Escola de Belas Artes do Recife) e, Jomar Muniz de Britto e João Batista de Queiroz, (Galeria João Batista). A partir de 1997 Eliane passou a dividir seu tempo entre a pintura de seus quadros e dos tapetes personalizados. No ano seguinte obteve o Prêmio Pernambuco Design, no Salão 98, promovido pelo SENAI/PE. Além de sua pintura habitual, executou retratos de figuras de destaque em Pernambuco.

                O crítico Georges Racz, escreveu: “Eliane se expressa por uma linguagem na qual o símbolo assume importância fundamental procurando colocar dados mergulhados por baixo da imediata apreciação estética, um, mistério que revigora a percepção da obra, na medida em que seja capaz de oferecer novas facetas quando revista, renovadas interpretações na face-a-face do subconsciente de cada um” (…).

                Wellington Virgolino fez a seguinte crítica: “Eliane marca outros pontos a seu favor: não tem ‘ismos’ no seu papo, e a beleza para ela é essencial. E não ter medo, recear parecer cafona ao fazer rostinhos bonitinhos, de pintar com um colorido bem vivo e alegre, numa época em que a moda ‚ de aleijões ou figuras retorcidas e propositadamente medonhas, é um ato de coragem de saber quem, de ver com os próprios olhos. Parabéns Eliane Rodrigues! Gostaria que permitisse a todos que virem seus quadros, uma estada de algum tempo, ou todo o tempo, no mundo bonito e mágico que você criou”.

                O sociólogo Gilberto Freyre, assim se expressou: (…) “confessando admirar mais seus desenhos que sua pintura, por neles me parecer se revelar, de modo incisivo, uma originalidade de concepções e de execução que me encanta“.

PRODUÇÃO GRÁFICA: & CAPA DO LIVROPROGRAMA MATERNO INFANTIL“, INPS, PE.(1976) & CARTÃO DE NATAL, “SÃO FRANCISCO DE ASSIS” (1981) & DESTILARIA ALVORADA, CABO, PE.(1983/4) & CAPA DO LIVRODONA LILI DO GRÃO PARÁ” DE FLÁVIO VALENÇA, PE (2000) & ILUSTRAÇÃO DO LIVRO “MINH’ALMA EM VERSO”, DE IRENALDA CELANE, EDITORA JB, JOÃO PESSOA (PB).

CENÁRIOS: PARA O TAPEHOMENAGEM A RECIFE”, FEITO PELA LUNI PRODUÇÕES PARA REDE GLOBO 4 PARA O TAPECIDADANIA” DA SECRETARIA DA JUSTIÇA, RECIFE (PE).

ACERVO: CABANGA IATE CLUBE, (PAINEL – 500 ANOS DO DESCOBRIMENTO), RECIFE, (PE) 4 CLUBE DE CAMPO 7 CASUARINAS, ALDEIA, (PE) 4 ESCOLINHA DE ARTE DO RECIFE, RECIFE, (PE) 4 CELPE-COMPANHIA DE ELETRICIDADE DE PERNAMBUCO, RECIFE, (PE) 4 IGREJA SÃO JOÃO BAPTISTA, (PINTURAS DA VIA SACRA), MARIA FARINHA, PAULISTA, (PE) 4 IGREJA N.SENHORA DE BOA VIAGEM, RECIFE (PE).

Dakir Parreiras

DAKIR PARREIRAS

Assina: Dakir Parreiras – Niterói, RJ, 1894 – Rio de Janeiro, RJ, 1967.

PINTOR.

 

SÍNTESE

Filho do grande mestre Antonio Parreiras, de quem recebeu os primeiros ensinamentos, completou seus estudos em Paris com Jean Paul Laurens, Biloul, Royer e Baschet.

Dakir é de tendência impressionista e, sob influência do academismo eclético é paisagista e pintor de história. Entre os anos de 1911 e 1949 foi agraciado com inúmeras premiações nas exposições que participou. Importantes obras de sua autoria fazem parte dos acervos do Museu Antonio Parreiras, Palácio do Governo de Porto Alegre, Florianópolis e Pernambuco e, ainda, do Teatro Municipal de Campinas e de Ribeirão Preto.

Em Artistas Pintores do Brasil (1942), Teodoro Braga indica bibliografia a seu respeito.

Ascal

ÁTILA DA SILVA CALVET

Assina: ASCAL 4 Fortaleza, CE, 20/06/1943.

PINTOR, GRAVADOR E ESCULTOR.

 

Apesar de cearense de Fortaleza, suas incursões pelo Recife são tão constantes que se integrou na nossa cidade. Grande parte de sua produção faz parte dos acervos de pernambucanos, sem contar com obras que estão em várias partes do mundo, como; França, Alemanha, Japão, Estados Unidos, Portugal e Espanha. Sua pintura denota uma fatura pessoal, caracterizada através da textura e do cromatismo bem peculiar. Sua escultura se apresenta geralmente em formas geometrizadas, através de metais, pedras, madeiras e resinas, representadas por configurações absolutamente criativas e inusitadas. Trabalhos desse porte fazem parte de diversos logradouros de sua cidade natal.

Paulo Henrique Saraiva Leão escreveu: (…) “O cometimento artístico será compreensível, agradável ou não, por não depender da obra de arte em si, mas dos conceitos e preconceitos do observador. Em arte é belo todo produto que atua emocionalmente no espectador, e muitas vezes irrelevante a representação objetiva, mas fundamental a significação formal. O grande bardo inglês do Romantismo oitocentista, John Keats (1795-1821) (`a beleza é a verdade, a verdade é beleza´) também disse: `uma cousa bela é uma alegria para sempre´. A beleza é realmente inefável.”

“Assim, bela é a pintura pluridimensional de Ascal, o artista resistente às kodakianas tentações do fácil. Para ele a tela é um crisol, uma retorta, e o produto final emana de um cadinho de deslumbramentos gerados pela interação plástica dos seus materiais. Aqui arte é criação, e do interlúdio entre a imagem e a realidade envolve o objeto correlato, prêt-a-porter, para ser consumido com os olhos e transubstanciado em emoção, resultando sua contemplação em experiência sensorial. `L’art pour l’art´, e não arte útil, arte boa, fútil ou má, arte inútil. A arte não tem função utilitária! Arte é ou não é. Ponto.”

“Sua arte, do início impressionista ao expressionismo atual resulta do sopro inovador que lhe imprime. A pintura aqui é consensual, e mesmo a tela é prelibada, como o agricultor amanhã ara sua terra para semear. Inexistem concessões aos cânones, aos estereótipos. Arte, ascaliana, é liberdade, inconformação, é descoberta. Não o descobrimento serendipitoso, fortuito, não o sinal feliz para a nau sem rumo, mas o achado perseguido, conspícuo, responsável, numa espontaneidade vigiada, concisa, despreocupada de escolas, mas com espírito universal.”

“Observa-se em Ascal a extraordinarização do ordinário, a caleidoscópica eternização do dia-a-dia. Não satisfeito apenas com o desenhar e pintar formas, Ascal passou a desvendá-las com as mãos, amalgamá-las com transpiração, materializando suas imagens pictóricas. Sua escultura é uma pintura sem caixilho, alada. É o gesto em liberdade. E a busca do cinzel é a mesma do pincel: a fixação da emoção, do instante real, ou da realidade onírica, gaivotas capturadas antes do vôo. Mas, antes que se ponha o sol, voltemos aos / nos seus barcos, naus que não ancoram nas suas dunas, pois sempre em demanda do infinito, mesmo quando em repouso postas. Se, como quer Dorival Caymmi, ´é doce morrer no mar`, dulcíssimo será morrer nos barcos… de Ascal.”

Milton Dias registrou: (…) “Onde foi que ASCAL aprendeu estes verdes, onde foi que descobriu estes amarelos tão pessoais, tão diferentes dos anteriores, onde foi buscar este azul antigo da linha do horizonte, e este colorido suave das casas humildes que se encolhem, discretas, para deixar bem ressaltados os botes do primeiro plano? A convivência do pintor com o seu tema o conduz a uma intimidade maior e o leva a descobrir e a valorizar detalhes: um pedaço de canoa lhe oferece elementos para uma composição de surpreendente grandeza na sua economia de linhas que as cores suprem vigorosamente. De repente descubro dois pequenos barcos num abandono de sonho, como se tivessem perdido seu ânimo viajeiro e brincassem gozando os ócios da feliz aposentadoria. Tudo tão iluminado de sugestão, tudo tão tranqüilo, tão poético, tão lírico tão bonito mesmo, que dá vontade de embarcar num deles, à procura das famosas ilhas anônimas do poeta, que as geografias nunca registraram.”

 

Álvaro Amorim

ÁLVARO AUGUSTO VIEIRA DO AMORIM

Assina: ÁLVARO AMORIM n BELÉM, PA, 11/11/1888 – (?).

PINTOR E ESCULTOR

                   Na qualidade de pintor, estudou com Telles Júnior e dedicou-se de modo especial a aquarelas. Ativo no Recife foi um dos que ajudou a fundar a Escola de Belas Artes de Pernambuco (1931), integrando, posteriormente, seu quadro de professores. Foi ainda professor do Lyceu de Artes e Ofícios de Pernambuco, da Escola Técnica Profissional Masculina, da Escola de Aperfeiçoamento e do Ginásio Vera-Cruz. Ocupou o cargo de assistente técnico da Diretoria do Teatro Santa Isabel. Realizou também trabalhos de cenografia. Foi Catedrático com tese sobre Natureza Morta. Foi premiado com Medalhas de Prata e de Bronze, em duas exposições Municipais. No V Salão Paraense de Belas Artes, em Belém, (1945), apresentou obras de pintura e escultura. Na Pinacoteca do Estado de Pernambuco, encontram-se várias de suas obras, merecendo destaque a que tem por título “Solar de Megaipe”. Manteve junto com Mário Nunes e Balthazar da Câmara um Atelier na rua 1ºde Março, em Recife, onde em 29 de março de 1932, decidem junto com outros, fundar uma escola onde a juventude encontrasse ambiente apropriado ao estudo das Belas Artes. Dessa forma, nascida de um impulso generoso que nada deteve, vivificada pela determinação de tirar do nada uma instituição desta ordem, menos de cinco meses de trabalho preparatório bastaram para que em 20 de agosto de 1932, fosse instalada solenemente a Escola de Belas Artes de Pernambuco e começassem a funcionar os cursos de Arquitetura, de Pintura e de Escultura.

                   Segundo Lucilo Varejão “sua tendência é para fixar ruínas e, nesse gênero, ha coisas suas do Forte do Buraco, Cruz do Patrão, Megaipe, capazes de emparelhar com as boas criações – dos mestres da especialidade”.

Reynaldo

REYNALDO DE AQUINO FONSECA

Assina: REYNALDO – Recife, PE, 31/01/1925.

PINTOR, DESENHISTA, GRAVADOR E PROFESSOR.

                Ainda muito jovem, freqüentou a Escola de Belas Artes do Recife, primeiramente como aluno livre, fazendo depois o curso de professorado de desenho, chegando a Professor Catedrático da Escola de Artes da Universidade Federal de Pernambuco, na categoria de Desenho Artístico.

                Em 1943, realiza sua primeira individual de pintura na cidade do Recife. No ano seguinte, fixa-se por seis meses no Rio de Janeiro, onde estuda com Cândido Portinari, participando do Salão Nacional com um quadro à óleo.

Em 1948, participou da fundação da Sociedade de Arte Moderna do Recife, viajando em seguida para a Europa, onde pesquisa sobre tendências, cores e formas de pintura.  No ano seguinte, no seu retorno, passou três anos no Rio de Janeiro, onde fez o Curso Gravura em Metal no Liceu de Artes e Ofícios, tendo por mestre Henrique Oswald. Entre 1949/1950, expõe trabalhos de gravura e desenho no Salão Nacional, obtendo medalhas de bronze, nas sessões de pintura, desenho e gravura, respectivamente.

                Em 1952, volta ao Recife, assumindo na Escola de Belas Artes a função de professor catedrático de Desenho Artístico e freqüenta o Ateliê Coletivo fundado por Abelardo da Hora. Em 1954 e 1956, ilustra dos livros de Edilberto Coutinho. Recebe em 1956 o Primeiro Prêmio de Pintura no Salão do Museu do Estado de Pernambuco. Em 1967, participa com gravura em madeira da IX Bienal de São Paulo, e em 1969 retorna ao Rio de Janeiro e expõe na Galeria Bonino, firmando-se desde então como um dos artistas mais fascinantes da nova pintura brasileira, no conceito da crítica e do público. Em 1973, apresenta seus trabalhos na mostra Panorama de Arte Atual Brasileira. Em 1974, retrata o general Abreu e Lima num trabalho encomendado pelo governo, para ser colocado no “Monumento dos Próceres da Independência”, em Caracas/Venezuela. Em 1980, ilustra um livro de João Cabral de Mello Neto.

O ápice do seu sucesso veio com o contrato de exclusividade firmado com a Galeria Ipanema, passando a expor alternadamente entre o Rio e São Paulo.

                Reynaldo disse a respeito da atmosfera dos seus trabalhos, em resposta ao questionário incluído no livro A Criação Plástica em Questão, (Editora Vozes): “Para conseguir a atmosfera de mistério e nostalgia que pretendo dar aos meus quadros, uso com freqüência, como assunto, velhas fotografias e gravuras. Tecnicamente parto do antigo (por encontrar nele os elementos necessários ao que quero expressar) tratando de dar uma construção pessoal, portanto atual”.

                O crítico Walmir Ayala escreveu: “Uma liberdade inconsútil e secreta, que repudia a qualquer conchavo para fundar-se no exercício perigoso da beleza. A esta categoria pertence o pintor pernambucano Reynaldo Fonseca, que especula o divino equilíbrio, numa linha de pintura francamente abeberada na vertente da renascença e na configuração dos mestres flamengos. Personagens, perspectivas, objetos, gestos, se sucedem para criar uma nítida versão de mundo – que se aliena na circunstância, na medida em que compreende a grandeza de fuga maior: a do milagre, da levitação, da faina familiar, do supra-real, o descanso dos gatos, uma dança maliciosa da demonologia enraizada nas coisas que passam, e se transformam”.

                Roberto Pontual fez a seguinte crítica: (…) ”Reynaldo recupera o passado da existência humana e da própria pintura; com o domínio técnico que se lhe reconhece e a parcela de ironia na insistência de uma assinatura a modo remoto, ele mergulhou, a semelhança do norte-americano Grant Wood, nas raízes setoriais de grande vertente da pintura ocidental nos últimos séculos. No seu paciente retorno irônico, Reynaldo tem se valído de pintores de linhagem e épocas diversas, embora aproximadas por uma mesma atmosfera a meio caminho entre o real fluente e o real que um instante pôs em suspenso: Vermeer, Frans Hals, Velazquez, Zurbaran, Magritte, Hopper, Balthus. Se na sua pintura percebemos abandono progressivo da ambiência nordestina de origem, notamos também, na que ‚ mais recente, a substituição de certo envolvimento balthusiano fundamental pela nitidez das coisas intactamente deslocadas de sua mornidão cotidiana, no sentido do súbito inusitado que nos conduz até Magritte. Há uma levitação, oclusa ou clara, de objetos límpidos – precisamente os mesmos de nosso contato diário, porém sob novas áreas de luz inesperadas, no centro de uma membrana que pulsa em suspensão fotográfica”.

                Ariano Suassuna, afirmou: “O mundo de Reynaldo Fonseca é fechado, mas, por isso mesmo, povoado de sonhos e de mitos… é um mundo oblíquo e dissimulado o desse pintor, que é bastante sábio e refinado para esmaltar sua cor em transparências que parece ter herdado dos homens mais ilustres da tradição renascentista, ou pré-renascentista e, ao mesmo tempo, bastante primitivo para se deslumbrar com isto, como qualquer homem do povo que se extasia com o bem pintado”.

                José Roberto Teixeira Leite registrou: (…) “Reynaldo Fonseca mantém-se deliberadamente apartado das correntes que buscam renovar a arte brasileira ou contribuir com qualquer inovação estilística para o seu desenvolvimento. Dotado de boa técnica, fazendo uso de sólido desenho e de colorido suave e sensível, consegue por vezes incluir em seus personagens e objetos alguma coisa de inefável, certa nostálgica carga de poesia e silêncio, que em seus mais frágeis momentos roça o piegas, mas nos melhores adquire conotação transcendental”.

 

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